"é necessário devorar leão, ser leão; atacar leão; gritar uma supernova a cada minuto, o amor brilha." Ericson Pires
Encruzilhada
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
E acabou o Carnaval. E aqui está o Oscar novamente.
Texto originalmente publicado no ORNITORRINCO.
Um ano depois,
estou no mesmo lugar. Ainda vendo o Oscar como uma premiação americana para o
cinema americano e mais uma prova de que eles só se importam e se bastam com o
que eles fazem. E, por isso, continuo achando que nós, do Brasil - e
possivelmente todos os não americanos ou não falantes da língua inglesa -
deveríamos ter menos frisson por tudo isso que está aí. E só falar sobre o
assunto já é chamar atenção para o evento e fazer a máquina de dominação
cultural girar...
Mas ao mesmo tempo, na tentativa de ser menos amargo e doutrinador como minha esposa me pediu, me pergunto: será possível alguém gostar de cinema e ignorar completamente o principal prêmio da maior indústria do meio?
Minha questão não é só cultural. Há também um incômodo com o
julgamento de arte como uma corrida de quem chega primeiro. E com a tradição
deplorável da sociedade americana em separar as pessoas entre vencedores e
perdedores. E de transformar tudo em comércio (o que por outro lado é uma
característica fascinante, essa capacidade de capitalizar em absolutamente
qualquer coisa).
Porque é isso que o Oscar é, no fim das contas: um jogo de
poder, política e dinheiro.
A temporada de prêmios existe para movimentar o mercado no fim
do ano e dar prestígio artístico à produção de uma indústria com os dois pés
afundados na comercialização e massificação do ofício.

E o Oscar, não se engane, é também uma corrida política. O que
significa que os produtores fazem campanhas milionárias para que seus filmes,
atores e técnicos sejam escolhidos pelos eleitores (membros da Academia de
Artes e Ciências Cinematográficas). E que atores, especialmente, abusem do
tapinha nas costas e dos sorrisos para conseguirem os votos de seus colegas.
Não à toa, as cerimônias são notoriamente longas e chatas. Haja
autocongratulação pra tanto ego.
O circo consolida o imaginário de que celebridades (no caso,
hollywoodianas) são a nobreza destes tempos. Filmes premiados invariavelmente
engordam a bilheteria. Atores premiados podem ganhar uma turbinada no status e
no cachê (apesar da velha maldição - Cuba Gooding Jr., Hillary Swank, Halle
Berry e Adrien Brody que o digam). E há o tal do já mencionado prestígio,
“primo da promíscua popularidade”.
Cinismo à parte, foi um bom ano para o cinema americano. E
alguns de seus grandes filmes parecem ganhar o devido reconhecimento entre os
eleitos de 2014. Refiro-me, especialmente, a ‘Birdman’, ‘Boyhood’ e ‘Whiplash’,
três filmaços de propostas, linguagens e intenções distintas. Outros favoritos
meus, ‘Nightcrawler’ (‘O Abutre’ no Brasil) e ‘Garota Exemplar’, foram
ignorados. Desprezo ‘American Sniper’ (apesar de fã de Eastwood) e admiro com
pequenas reservas ‘Hotel Budapeste’ (vencedor técnico da noite), ‘A Teoria de
Tudo’, ‘Selma’ e ‘O Jogo da Imitação’.
Mas muito mais relevante que qualquer opinião deste modesto e
autodepreciativo escriba são os comentários do mago Mark Kermode, o principal
crítico britânico de cinema e cujas resenhas, videoblogs e comentários gravados
no programa de rádio e publicados no youtube eu altamente recomendo.
As questões de Kermode com o Oscar são menos relacionadas à
dominação cultural (obviamente, já que ele é inglês). Gostaria de saber o que
Pablo Villaça, meu crítico favorito no Brasil, teria a dizer sobre o assunto.
Em um de seus posts ,
Kermode é certeiro ao discorrer sobre a polêmica de que o prêmio, neste ano,
está especialmente branco, uma questão abordada pelo apresentador triple-threat
Neil Patrick Harris logo na abertura com o tom preciso de sarcasmo. Num ano em
que David Oyelowo abordou de forma admirável a vulnerabilidade e, por
consequência, a grandeza de uma figura tão mítica quanto Martin Luther King (em
‘Selma’), não há negros indicados nas categorias principais (apesar de um
latino aqui e ali), o que ganhou ainda mais evidência por ‘12 Anos de
Escravidão’ ter feito a limpa ano passado. Mas com direito a uma performance pungente,
que levou alguns na plateia às lágrimas, Common e John Legend, negros, levaram por
‘Glory’, também de ‘Selma’, o prêmio de Música Original.

“A única coisa surpreendente de ser um Oscar todo branco e
masculino neste ano é que alguém se surpreenda com isso”, ele diz.
Em geral, no entanto, Kermode concentra suas críticas ao evento mais pela injustiça dos não-nomeados, muitas vezes em função de serem
‘notícia velha’ ou da suposta memória fraca dos eleitores.
Como um antídoto para o Oscar, ele criou sua própria premiação,
o Kermode Awards (com estatueta e tudo), onde ele sozinho escolhe os vencedores
e, pra concorrer, você não pode estar indicado na Academia.
Se interessar, deem uma olhada. Nada de três horas ou comerciais
intermináveis. São só dois vídeos de cinco minutos...
Kermode Awards Parte 1
Kermode Awards Parte 2
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Poema do inverno branco
Vez por quando
Logo ao apagar da solidão
Essa cidade chora branco
Lágrimas geladas pelo chão
Um dia claro se anuncia
E a noite, derramada em mansidão;
O inverno faz deserto praia fria
Ganho abraço da escuridão
Sumo na floresta dessa neve
Caminho a passo lento, redenção;
Acesa, a criança se atreve
Pulsa novamente o coração.
Logo ao apagar da solidão
Essa cidade chora branco
Lágrimas geladas pelo chão
Um dia claro se anuncia
E a noite, derramada em mansidão;
O inverno faz deserto praia fria
Ganho abraço da escuridão
Sumo na floresta dessa neve
Caminho a passo lento, redenção;
Acesa, a criança se atreve
Pulsa novamente o coração.
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