Nunca
li nada de José Saramago. E não me perdoo por isso.

Gigante
de um carisma inigualável do alto de seus 83 anos - no início das filmagens,
que registram quase três anos do dia a dia do casal ao mesmo tempo em que
acompanham o processo de produção do livro ‘A viagem do elefante’ – José
Saramago domina, por vezes quase involuntariamente, cada passagem do filme.
Pilar não faz por menos e está sempre por perto, como esposa, assessora, uma verdadeira
extensão de Saramago, além de uma mulher fortíssima (nunca esqueci suas
colocações na entrevista que ela dá a um jornalista, quando defende o uso da
palavra ‘presidenta’: “A palavra não existia porque não existia o cargo. Quem
me chama de ‘presidente’ é ignorante”).


Não
me perdoo por ainda não ter lido nada de Saramago. Mas tenho o que este homem, que
se tornou escritor profissional aos 60 anos, afirma não ter mais, em
determinado momento do filme: tempo. E intendo aproveitá-lo para conhecer mais
este gênio de língua igual a minha.
MEMO:
Aqui, de fato, são muitas as cenas memoráveis. Mas entre a reação de Saramago
assistindo a ‘Ensaio sobre a cegueira’ ao lado de Fernando Meirelles (também
produtor do doc), a sequência em que o português, exausto, e Gabriel García
Marquez dormem sentados durante um bate-papo com universitários e muitas outras
sequências estupendas, separo o caso de Stefano, que entra em cena perto do fim
do filme, durante a noite de autógrafos de ‘A viagem do elefante’, em São
Paulo. O sujeito tem diante de si um prêmio Nobel, um dos escritores mais
consagrados do mundo e, talvez acima de tudo isso, um senhor de 85 anos, que se
dedica a assinar TODOS os livros que lhe são solicitados e chega a se desculpar
por conta da impossibilidade de fazer dedicatórias, uma vez que a demanda é
muito grande e o tempo é curto. Aí me chega o Stefano, sob os protestos da
assessora e manda: ‘Saramago, você pode desenhar um hipopótamo pra mim?’.
Inacreditável.