A cada filme que vejo de Nicolas Winding Refn fico mais impressionado. Não apenas com o apuro visual que o cineasta dinamarquês é capaz de imprimir, mas como ele consegue criar o próprio estilo sem pesar a mão e sem sobras.
Em
‘Bronson’, Refn monta o retrato de um personagem aterrador: o inglês Michael
Peterson, um sujeito tão violento que funciona quase na lógica de um artista. E
de fato, no decorrer dos anos de confinamento, torna-se um artista. Sem deixar
de ser um homem violento.
Condenado
a sete anos de prisão por roubar um posto dos correios, o homem acaba passando 14
anos na cadeia por brigas com outros detentos e carcereiros. Transferido entre
o sistema prisional inglês por incríveis 120 vezes (!) pelo mau comportamento,
Peterson acaba livre em 1988. Apenas para ser preso de novo, 69 dias depois,
tendo acabado condenado à prisão perpétua. Do total de seus 37 anos de cadeia,
30 foram em solitária.
Não
à toa, Charles Bronson, alter-ego psicótico criado por Peterson, alcançou seu
objetivo, tornando-se uma celebridade, ainda que bizarra: o preso mais perigoso
da Inglaterra.
Nicolas
Winding Refn constrói uma espécie de relato biográfico não-realista, pondo
Bronson (Tom Hardy, já falo dele) para contar a história diante da câmera e
entrecortando os relatos e episódios com uma apresentação teatral do personagem
diante de um público. Dos enquadramentos à fotografia, passando pela trilha
sonora e o ritmo da narrativa como um todo, tudo impressiona. Da fabulosa
sequência inicial em luz vermelha ao fim, Refn deixa claro seu domínio da obra
como um todo e a confiança em suas escolhas estéticas.

Os
méritos de Nicolas Winding Refn, no entanto, precisam ser repartidos com Tom
Hardy. Reza a lenda que o inglês engordou 19 quilos fazendo 2.500 flexões por
dia, durante cinco semanas para alcançar a musculatura do retratado. Mas Hardy
não é apenas uma presença física. É um puta ator, que aqui oferece uma
performance hipnótica. O tipo ‘louco’ pode ser um convite ao clichê e ao exagero,
mas Hardy aproveita as escolhas do diretor para até brincar com o personagem
(como nas intervenções teatrais) e, entre grunhidos e uma voz gutural, criar um homem de quem podemos esperar
qualquer coisa, a qualquer momento.
Ainda
que um psicopata, um psicopata absolutamente fascinante.
MEMO:
As sequências de Bronson no palco são absolutamente fantásticas; a cena em que
o personagem se besunta de manteiga e aquela em que promove um assalto numa joalheria
desarmado, aos berros com a vendedora, também são memoráveis.
Trailer:
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