76.
Elena – 18/05 – cinema

Ao
constatar traços da personalidade sua falecida irmã mais velha em si mesma, a
diretora, roteirista e atriz Petra Costa faz uma viagem de sensibilidade ímpar
para reconstruir o caminho de Elena até a sua morte, por suicídio, em Nova
York.
Petra
usa imagens de arquivo, arquivo da família, encena reconstituições que se fazem
passar por arquivo, e coloca o próprio corpo e rosto para servir de guia nas
imagens atuais que cobrem gravações em off da irmã, passagens que ela mesma
narra, sempre endereçando-as a Elena e ainda alguns depoimentos, quase sempre
da mãe. Tudo sob uma trilha sonora deslumbrante, contando com material original
e material licenciado.
Sempre
filmando subjetivamente, Petra alcança um nível de aproximação e intimidade
assombrosas e acaba construindo uma obra sensorial melancólica, dramática,
poética ao extremo e muito pessoal, porém sem nunca deixar de ser relevante ao
público enquanto experiência.
Ao
fim, estamos tão próximos de toda a história de Elena que temos a vontade de
encontrar a família, em especial mãe e filha, para dar-lhes um grande abraço.
Há aqueles que rejeitam a tristeza. Petra Costa abraçou a triste história de
sua irmã e fez dela um grande poema cinematográfico, uma linda realização que a
ajuda a superar a perda, o medo de seguir o mesmo caminho e ainda colocar a
irmã num lugar em que ela esteja bem: o da saudade, da memória.
MEMO:
Qualquer momento em que Elena apareça dançando, em especial o primeiro do
filme, com ela quase deixando de ser criança, de vestido, em casa; o corte
feito de Elena para a mãe num quadro quase igual, em preto e branco,
evidenciando a semelhança entre as duas; Elena filma a lua e faz o ponto luminoso
dançar diante de sua câmera enquanto responde a quem lhe perguntara 'Tá dançando sozinha' 'Não, tô dançando com a lua; as mulheres
flutuando de vestido nas águas.