A
crise de conteúdo em Hollywood é tamanha que um filme regular de roteiro
original e com uma premissa criativa chama a atenção (apesar de não
necessariamente faturar alto, o que de fato interessa para a indústria).
É extremamente louvável o esforço do autor e diretor Rian Johnson em fazer seu nome no cinema americano. ‘Looper’ é seu terceiro longa-metragem; os outros foram ‘A ponta de um crime’ (2005) – que não vi – ‘Vigaristas’ (2008) – que vi, mas apesar de interessante, confesso que não lembro muito, preciso ver de novo... – todos escritos e dirigidos por ele. Apesar de independente, Johnson consegue atrair gente bacana para os seus projetos (Adrien Brody, Mark Ruffalo e Rachel Weisz em ‘Vigaristas’; Bruce Willis, Jeff Daniels, Emily Blunt e Joseph Gordon-Levitt – que também esteve em ‘A ponta...’ – neste aqui).

Com
pouca visibilidade nos cinemas, já vi ‘Looper’ ser apontado como um futuro cult, com uma pérola da ficção
científica futurista, etc. Sempre me interesso muito pelo tema viagens no tempo
e a premissa aqui é original e quase filosófica ao passo que existe um conflito concreto
entre eliminar ou não a sua própria versão do futuro. Pessoalmente, acredito
que se Rian Johnson tivesse se mantido focado nesta questão o filme chegaria
muito mais longe.
Dividir
a atenção entre o Joe do futuro (Bruce Willis) e o do presente (Joseph Gordon-Levitt)
é interessante e ousado narrativamente, assim como o desenvolvimento de uma
trama maior em torno do protagonista, mas acho que essa divisão acaba reduzindo
a força e a presença do personagem principal, cuja jornada quase se torna
coadjuvante em relação à procura pela tal criança Rainmaker. Também acredito que, apesar de Bruce Willis ser um
monstro do carisma, o personagem poderia ter sido mais desenvolvido por outro
ator pela complexidade da situação e da própria persona do homem – convenhamos,
não é de hoje que Bruce Willis parece atuar no piloto-automático do carisma,
pagando sempre de sou-herói-de-filme-de-ação.


Ao
mesmo tempo, é bonito ver Rian Johnson corajoso, abraçando a ambiguidade e deixando
de lado qualquer maniqueísmo na construção de seus personagens, chegando a
botar Bruce Willis para assassinar uma criança inocente a sangue frio. Também é
admirável a maneira como o realizador se preocupa com todo o tratamento do
conceito de sua obra, equilibrando-se entre o baixo orçamento (U$30 milhões nos
EUA é baixo orçamento) e a criação de conceitos interessantes, tanto na
história, com a telecinese originada de uma mutação genética e a própria dinâmica
de funcionamento dos loopers, quanto na encenação, com a maquiagem de Joseph
Gordon-Levitt, de modo a deixa-lo mais parecido com Bruce Willis. Somada à
atuação precisa de Gordon-Levitt, que às vezes emula uma versão jovem dos
trejeitos de Bruce, o conceito funciona muito bem.

Ainda
que mereça aplausos, talvez mais pelo esforço de trabalho realizado do que pela
realização em si (e faltou citar a atuação assustadoramente realista do menino Pierce
Gagnon), ‘Looper’ também merece um puxão de orelha ainda por se dar ao luxo de praticamente
desperdiçar a presença de Jeff Daniels e Paul Dano.
MEMO:
O corte de perspectiva da queda do jovem Joe pela janela no presente para a
vida dele até se tornar o velho Joe que acaba voltando no tempo é absolutamente
fantástico.
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