CALABAR – O
elogio da traição, de Chico Buarque e Ruy Guerra (1973)
Tomando
liberdades propositalmente em cima de um episódio histórico, Chico Buarque e
Ruy Guerra transformam em herói uma figura que sempre foi tida como traidor e misturam
drama e comédia no texto deste saboroso espetáculo musical.
Com a figura
de Calabar pairando sobre a ação – sendo o centro dos acontecimentos e dando
nome à peça, mas sem nunca mostrar o rosto, de fato – o enredo enfoca
governantes holandeses e portugueses, Igreja, colonos e mercenários no nordeste
do Brasil colonial de 1635, tecendo uma teia de traição (por vezes cômica) e
fazendo referências a momentos mais recentes da história do país.

“ Um dia este país há de ser independente. Dos
holandeses, dos espanhóis, dos portugueses... Um dia todos os países poderão
ser independentes, seja do que for. Mas isso requer muito traidor. Muito
Calabar. E não basta enforcar, retalhar, picar... Calabar não morre. Calabar é
cobra-de-vidro. E o povo jura que cobra-de-vidro é uma espécie de lagarto que
quando se corta em dois, três, mil pedaços, facilmente se refaz.” (BUARQUE & GUERRA, 1973:133)