Se perguntarem...
Se perguntarem por mim
Diga que grito.
Se perguntarem 'por quê?'
Diga que canto.
Se perguntarem 'e agora?'
Diz 'está escrito'.
Se perguntarem 'o que será?'
Diz que me levanto.
Se perguntarem por mim
Diga que parti.
Se perguntarem 'por quê?'
Diga 'vai saber'.
Se perguntarem 'pra onde'
Diz que estou por aí.
Se perguntarem pra ti
Diz que estou a viver.
02/05
O divórcio
Queria pouco e lhe surpreenderam
Incrédula, lhe abandonaram
Tinha tanto enquanto enriqueceram
Nada sabia, lhe decepcionaram
E ele volta, sem esquecer
E ele vem pra lhe atormentar
Troca a face ao reconhecer
Aquilo que nunca quis enxergar
Parte sem partir e quer ficar
E ela só tem isso pra viver
E ele não hesita em enfrentar
E os dois vivem sozinhos pra sofrer.
03/05
Fim de tarde
Que me venha o sol
Dourar meu rosto
Renovar
Queimar meu corpo
Limpar
Que me venha o mar
Molhar meus pés
Me redimir
Por meus papéis
Me conduzir
Que me venha o vento
Que se faça ouvir
Soar e ver
Quem está aqui
Venha me conhecer.
04/05
Dancemos
Dancemos a dois
Depois, dancemos em família
Há milhas da família que somos
Fomos, porque somos e seremos
Serenos, seremos muito mais
Iguais, totais, mais que nós
Após, nós e o tempo
Cinzento do tempo a esconder
Para não crer, esconder para não vermos
Os mesmos, não vermos o que podemos ser
Pois viver, quando ser
É tudo que podemos.
Dancemos.
05/05
À mais querida
Escrevo à mais querida
Risadinha da vida
Tereza, Tetê, Maninha
Verso para minha madrinha
A leitora da poesia
Verso por ela neste dia
Por seus anos, sua alegria
Entre os planos, presente, minha tia
Dona de parte de mim
Te agradeço e homenageio assim
Um poema feito só pra ti
Maria, querida, Didi.
06/05
Por si
Não é filho de ninguém
Nem afilhado de ninguém
Não é amigo de fulano
Nem foi trazido por beltrano
Não é neto de ninguém
Nem da família de ninguém
Não é esposa, não é marido
Nem namorado, nem conhecido
Não é protegido de ninguém
Nem indicado por ninguém
E ainda assim, está aqui
Sem quem lhe traga, está aqui
Sem atalho ou herança, está aqui
Quer assim, estar aqui
E vem só, vem por si.
07/05
Havemos, hão, há
Há quem sofra
Quem lamente
Há quem fuja
Quem se ausente
Há o perdido
O trovador
Há o vencido
O desbravador
Há quem não pense
Há quem não viva
Há quem não tente
Há quem não sinta
Há quem não veja
E o que não sonha
Há quem esteja
Sob a própria sombra
Há quem pereça
Por ser própria calma
E há quem se esqueça
De que tem alma.
Havemos, hão, há
Há quem sofra
Quem lamente
Há quem fuja
Quem se ausente
Há o perdido
O trovador
Há o vencido
O desbravador
Há quem não pense
Há quem não viva
Há quem não tente
Há quem não sinta
Há quem não veja
E o que não sonha
Há quem esteja
Sob a própria sombra
Há quem pereça
Por ser própria calma
E há quem se esqueça
De que tem alma.
08/05
João, meu irmão
É meu irmão,
Homem de criação
À procura de si
Como todos daqui
É meu sangue
Minha gíria
Meu igual
Minha família
Hoje não há certo ou errado,
Bruto de sorriso puro;
Hoje celebro nosso passado
Hoje aposto em nosso futuro
Tua voz é minha voz
O teu jeito, meu trejeito
Irmão de corpo, rosto, feroz
Aqui lhe faço meu respeito
Touro como o pai
Cascudo como a mãe
Carisma como o irmão;
Às vezes um moleque
Por sempre foi Vicente
Pra sempre é meu João.
João, meu irmão
É meu irmão,
Homem de criação
À procura de si
Como todos daqui
É meu sangue
Minha gíria
Meu igual
Minha família
Hoje não há certo ou errado,
Bruto de sorriso puro;
Hoje celebro nosso passado
Hoje aposto em nosso futuro
Tua voz é minha voz
O teu jeito, meu trejeito
Irmão de corpo, rosto, feroz
Aqui lhe faço meu respeito
Touro como o pai
Cascudo como a mãe
Carisma como o irmão;
Às vezes um moleque
Por sempre foi Vicente
Pra sempre é meu João.
09/05
A vitrine da vovó
"Toda minha vida está aí'
Ela me diz
Como quem quis
Me convidar a entrar
Cá está
Tudo em seu lugar
Entre lembranças
Heranças
Do amor
Do avô
À melodia de uma caixinha de música
Há memória
História
E ela deixa de ouvir para estar
Entre palhaços, canetas tinteiras
Milhares de peças resistem inteiras
Unidas, coladas, se soltam, separam
Pedaços da vida
Escurecida, se apagam
Entre livros e jóias
Louças e oração
Entre o silêncio se colocam
As notas de uma canção
Do que nos deixa, do que se foi
Do que se vai, do que ficou
Uma melodia repetida e ouvida
Através do tempo, dos anos, da vida
Quero chorar, não consigo.
É algo maior que se junta comigo
Sobre o que é, o que fica
Sobre o que há, não se explica
Nesta tarde de maio, me domina, me ensina
E assim, de repente, se fecha e termina.
A vitrine da vovó
"Toda minha vida está aí'
Ela me diz
Como quem quis
Me convidar a entrar
Cá está
Tudo em seu lugar
Entre lembranças
Heranças
Do amor
Do avô
À melodia de uma caixinha de música
Há memória
História
E ela deixa de ouvir para estar
Entre palhaços, canetas tinteiras
Milhares de peças resistem inteiras
Unidas, coladas, se soltam, separam
Pedaços da vida
Escurecida, se apagam
Entre livros e jóias
Louças e oração
Entre o silêncio se colocam
As notas de uma canção
Do que nos deixa, do que se foi
Do que se vai, do que ficou
Uma melodia repetida e ouvida
Através do tempo, dos anos, da vida
Quero chorar, não consigo.
É algo maior que se junta comigo
Sobre o que é, o que fica
Sobre o que há, não se explica
Nesta tarde de maio, me domina, me ensina
E assim, de repente, se fecha e termina.
10/05
O casamento
Muito após o pedido
Minha mão está contigo
Ouvindo coisas sem sentido
Que não nos tiram o sorriso
Sim, te quero comigo
Sim, serei teu amigo
Teu amigo, o mais querido
Rumo ao desconhecido
E prometo amar-te e respeitar-te
Ser teu companheiro,
Por inteiro
Fazendo-nos iguais
Correndo a vida juntos,
Nada mais.
O casamento
Muito após o pedido
Minha mão está contigo
Ouvindo coisas sem sentido
Que não nos tiram o sorriso
Sim, te quero comigo
Sim, serei teu amigo
Teu amigo, o mais querido
Rumo ao desconhecido
E prometo amar-te e respeitar-te
Ser teu companheiro,
Por inteiro
Fazendo-nos iguais
Correndo a vida juntos,
Nada mais.
11/05
Do que poderia ter sido
Uma verdade calada
A ocasião de um desencontro
A escolha mal fadada
O não retorno de um ponto
Aquela história não aconteceu
Houve um amor que não se viu
Num porém, o momento se perdeu
Quem disse que ia ficar, partiu
'E se', promete o condicional
A uma versão imaginária do real
E se não feito, se não desfeito
Se não falado, encontrado, escolhido
O que faria, quem seria
O que poderia ter sido?
Do que poderia ter sido
Uma verdade calada
A ocasião de um desencontro
A escolha mal fadada
O não retorno de um ponto
Aquela história não aconteceu
Houve um amor que não se viu
Num porém, o momento se perdeu
Quem disse que ia ficar, partiu
'E se', promete o condicional
A uma versão imaginária do real
E se não feito, se não desfeito
Se não falado, encontrado, escolhido
O que faria, quem seria
O que poderia ter sido?
12/05
Mater
'Mãe é o nome de deus
Nos lábios de uma criança';
São por ti, serão teus
Nossa espera, esperança
De um novo existir, um novo ser
Por dar à luz, iluminar
Teu tipo único de poder
Fazer nascer, assim criar
Assim lhe chamo: a mãe de tudo
De sobrenome natureza
Origem, símbolo; vida, mundo
Caos, equilíbrio; paz e beleza.
Mater
'Mãe é o nome de deus
Nos lábios de uma criança';
São por ti, serão teus
Nossa espera, esperança
De um novo existir, um novo ser
Por dar à luz, iluminar
Teu tipo único de poder
Fazer nascer, assim criar
Assim lhe chamo: a mãe de tudo
De sobrenome natureza
Origem, símbolo; vida, mundo
Caos, equilíbrio; paz e beleza.
13/05
Ser outro, outro ser
Há eu, há sim, há um
Não há, há não, nenhum
Há outro, há
Já, Já, Ha-Ha-Ha-Ha
Só há, soluto
Agudo, hirsuto
O outro só
Só hei, sou só
Só
Por ser do outro
Que sem saber
Me cerca o nó
Em dó fa mi
Ré lá si sol
Não sei se ser souber
Senão será sempre sequer.
Ser outro, outro ser
Há eu, há sim, há um
Não há, há não, nenhum
Há outro, há
Já, Já, Ha-Ha-Ha-Ha
Só há, soluto
Agudo, hirsuto
O outro só
Só hei, sou só
Só
Por ser do outro
Que sem saber
Me cerca o nó
Em dó fa mi
Ré lá si sol
Não sei se ser souber
Senão será sempre sequer.
14/05
E quem se importa com a rosa a essa hora?
'E que me importa'
Sopra a rosa
Gira a roda
A roda rosa
A rosa gira
Sopra e vira
Vira-mundo, vira-tudo
Vira-roda
Que se importa
Vira a rosa
'Divina e graciosa
Estátua majestosa'
Da demora
Da hora
Da roda
E quem se importa com a rosa agora?
E quem se importa com a rosa a essa hora?
'E que me importa'
Sopra a rosa
Gira a roda
A roda rosa
A rosa gira
Sopra e vira
Vira-mundo, vira-tudo
Vira-roda
Que se importa
Vira a rosa
'Divina e graciosa
Estátua majestosa'
Da demora
Da hora
Da roda
E quem se importa com a rosa agora?
15/05
Matá-lo
Quero me desvencilhar de você
Matar
E sobreviver
No ato, do alto da última altura
Esta figura
Em sua assinatura
Deixou pra mim o 'porque'
Quero me desvencilhar de você
Te matar
Deixar de aprender
Saber o que meu é teu
O que sou eu
Para abraçar o que puder ser
Quero me desvencilhar de você
Pois o que apregoa ainda ecoa
Em minha cabeça, para que não esqueça
Que nem exilado, separado ou desvencilhado
Deixarei de segui-lo.
Meu querido, mais querido,
Meu amigo.
Matá-lo
Quero me desvencilhar de você
Matar
E sobreviver
No ato, do alto da última altura
Esta figura
Em sua assinatura
Deixou pra mim o 'porque'
Quero me desvencilhar de você
Te matar
Deixar de aprender
Saber o que meu é teu
O que sou eu
Para abraçar o que puder ser
Quero me desvencilhar de você
Pois o que apregoa ainda ecoa
Em minha cabeça, para que não esqueça
Que nem exilado, separado ou desvencilhado
Deixarei de segui-lo.
Meu querido, mais querido,
Meu amigo.
16/05
Ericson
O poeta se foi
Choro por ele
E toda vitalidade, potencialidade
Toda visceralidade e sinceridade
Do que se encontra no chão
Um vão do em vão
Vai, ai
De mim, assim, é sim
Que vai, que foi
O poeta se foi
E o descubro já ido
Partido, ruído, caído, vivo
Vivo! Pois vive em poesia
Na maestria das palavras escritas
Bonitas, intensas, imensas, propensas a falar
O poeta se foi, mas ainda está.
Ericson
O poeta se foi
Choro por ele
E toda vitalidade, potencialidade
Toda visceralidade e sinceridade
Do que se encontra no chão
Um vão do em vão
Vai, ai
De mim, assim, é sim
Que vai, que foi
O poeta se foi
E o descubro já ido
Partido, ruído, caído, vivo
Vivo! Pois vive em poesia
Na maestria das palavras escritas
Bonitas, intensas, imensas, propensas a falar
O poeta se foi, mas ainda está.
17/05
Mal-estar
O mal-estar
Estar
Está
Por vir a ser
Por não ser, eis a questão
Que coloca no olho do furacão
O diapasão
Da solidão que é o mal
Estar em que se encontra
É o que se compra na televisão
Quem vai pagar, quem vai vender
Você vencer viver vir ver
E ler
O que se escreve na biografia
Geografia de quem foi, do boi
Epitáfio de dia:
"Aqui esteve o mal
Em si, se vá
Estava em mim
O mal-estar, está".
Mal-estar
O mal-estar
Estar
Está
Por vir a ser
Por não ser, eis a questão
Que coloca no olho do furacão
O diapasão
Da solidão que é o mal
Estar em que se encontra
É o que se compra na televisão
Quem vai pagar, quem vai vender
Você vencer viver vir ver
E ler
O que se escreve na biografia
Geografia de quem foi, do boi
Epitáfio de dia:
"Aqui esteve o mal
Em si, se vá
Estava em mim
O mal-estar, está".
18/05
Gil
Um homem que não teme a morte
Mais porte que sorte
De sua entidade
Uma quase divindade
Da África à América
Erudita e periférica
Tua música é tua alma
A alma de tua música
Popular, requintada, cantada
Em teus gritos falsetes intactos
Entre nós façamos um pacto
Presença dourada, elegância carregada
Uma existência admirada, uma figura elevada
Você continua o trabalho
E nós seguiremos a amá-lo.
Gil
Um homem que não teme a morte
Mais porte que sorte
De sua entidade
Uma quase divindade
Da África à América
Erudita e periférica
Tua música é tua alma
A alma de tua música
Popular, requintada, cantada
Em teus gritos falsetes intactos
Entre nós façamos um pacto
Presença dourada, elegância carregada
Uma existência admirada, uma figura elevada
Você continua o trabalho
E nós seguiremos a amá-lo.
19/05
A vida num filme
Às vezes me pego, em movimento
Pensando penando, pensando no tempo
Ao caso a ferida, chamada de vida
E a vejo como uma, uma grande película
Um único filme, um filme diário
Nossa despedida, um documentário
Subjetivo, sem objetivo
Um filme que vemos, por anos e anos
História de amores, de dores, de planos
Talvez acabe no meio, talvez vá até o fim
Um filme protagonizado por mim
Sem volta e às voltas com reviravoltas
De roteiro improvisados dia a dia
Com filmes dentro do filme, metalinguagem vazia
Um filme em fita ou disco, não avança ou rebobina
Assiste, atua, vive e um dia, assim, termina.
20/05
Sem ar
A queda fria que cai da nascente
Me deixa sem ar
Bate em meu rosto, gelada, com gosto
Faz-me não respirar
Com os anseios seguros no pulmão
Então, me ponho a navegar
Na estrada deserta
Que me desperta
Devagar
Devagar, por vagar, a vagar
Sou um animal em busca de uma vaga
Uma vaga para um simples respirar.
21/05
Essa gente
Dessa gente que me passa
No caminho
Dessa gente que me olha assim
Sozinho
Gente estranha, esquisita
Corre, corre, aqui, aflita
Apressada, vai e vem, vem e volta
Da vida
Atrasada pro que tem, tem e solta
Com olhos de serpente
Boca de vidente
E olhares tão vazios
Fugidios
Enquanto me oriento e determino
Considero meu destino
Sorridente, não me compreendo
Esqueço, e até agradeço
Entendo com seu preço
Por entre ruas sujas
Suas na minha medida
Escuras de pintura anoitecida
Sentida dessa gente tão perdida.
22/05
MM
Se apaixonou sem querer,
Se apaixonou por você
O desenho das mãos de lado
O canto mais afinado
Sonhando em beijá-la, sê-la
Romântico não tê-la
Conquistado e rendido
Hipnotizado quando submetido
À visão de uma rainha branca
Cabelos negros, boca vermelha
Espanta sua presença que espelha
Em música de ti, tornada aqui
Qualquer coisa mitológica
Demovida de lógica
E que razão tem a paixão
Quando o mundo grita 'não'?
23/05
Um
Será pois um
A mais que não
Solo então
Apenas um
De orgulho, ou um governo qualquer
No escuro, nos braços de uma mulher
Um
No inverno, penando a gelar
Num pedaço do ano solar
Haverá luz por quem lhe conduz
E será um
No conflito, dito, restrito
Ao corpo do esforço
Por ti torço
Por medo nenhum, temor algum
Que te baste ser um.
24/05
Passando, passando
E caminha por pegadas apagadas
Fundadas em pés de histórias tão passadas
O chão que se desenha se desdobra
De página em página, revela sua obra
Imortal enquanto dura
Eterno enquanto triste
Existe, assiste, perdura
À melodia da lembrança pura
E o legado deixado pra trás
Reminiscências finais
De quem já esteve e já foi
E já não é mais.
E caminha por cima dos anos
Por cima dos beijos, da mágoa e da fé
Caminha, me leva e nos vamos
A outra praia, nos vamos a pé.
25/05
A roda da rima
Chama-me rente, só minha
Clama decente, rainha
Trama o presente, sozinha
Ama a serpente, madrinha
A governança do caos
Sobrepujança dos paus
Na temperança dos saraus
Desesperança dos maus
O cheiro da estranheza
Tempero da impureza
Terreiro da incerteza
Caseiro da realeza.
26/05
A ousadia e alegria do menino que sonhava
E o que será mais bonito que sonhar?
Um sonho realizado
Apenas o começar
De um caminhar a ser traçado
Vai guri, ninguém te segura mais aqui
Vai guri, estamos todos torcendo por ti
Talvez por nós mesmos, pelo país
Mas escrevendo torço pra que sejas feliz
Porque és o sonho em menino boleiro
O sonho do futebol brasileiro
E acima de tudo, o garoto do sonho
Drible fácil, já pai de família, risonho
Sonhava grande, entre os melhores
Chegou tua hora, és dos maiores
Vai atrás da tua coroa, Ney
Deixa de ser príncipe, vai ser rei.
27/05
Vestidos de caneta e papel
Entre os sons há os sonhos
Escondidos, puídos, medonhos
Vestido de caneta e papel
Mirando o limite do céu
De escolhas, opções, intuições
A coragem de formar proposições
Entre os sonhos há histórias
Há mentiras, nervos, glórias
E detalhes de uma vida
Assim urdida
O mergulho, em si, inteiro
Verdadeiro
Entre as histórias havemos nós,
Sonhadores
Ousados de sonhar, escritores
Escrevendo nosso ser
Escrever
Sendo em nós o que queremos
Seguiremos.
28/05
Os olhos do rosto vermelho encaram
A escolha é uma máscara vermelha
Desaparecendo em escuridão
Fantasmagoria traiçoeira
Engana teus olhos, tua visão
Valia ameaçadora
Sombria e assustadora
Sorria de prisão
O rosto brilhoso escarlate
Uma fila de signos embaralhados
É rubro de sangue o quilate
A teia de todos significados
A mensagem do inconsciente
Ascendente sobre a ilusão
A imagem limpa, gravada na mente
A escolha doente, traição
Perversão, arrefece tua semente
Aquela que circula em solidão.
29/05
noite adentro
eis que a noite se estende
se vai
desfaz em paz
e lembra o que teria sido
o que foi
e o não temido
pela janela, ao passo dela
como quem aprende com a hora
como olhar, ver, manter-se fora
marginal se mostra
silenciosa encosta
seu charme em meu terreno
sensual, sexual, a noite se rende
se derrete
reflete os desejos
e os incita
e os dissipa
celebra a cegueira
à sua maneira
desfaz o cheiro de calma
atende aos apelos da alma.
30/05
Vez
A vez que te encontrei
Foi a vez que me prendi;
A vez que te falei
Foi a vez que te perdi
A vez que te olhei
Foi a vez que me iludi
A vez que me enganei;
Foi a vez que conheci
A mentira que enxerguei
Foi a vez que vi partir
Quem eu tanto esperei
Foi minha a vez de cair
A vez que te enfrentei
Foi a vez que mais sofri
Chorei, minha vez, chorei
Chorei, minha vez, pedi;
Chorei, minha dor, cantei
A vez em que te esqueci.
31/05
tristeza será
tristeza será linda
tão bem-vinda quanto finda
será bela
numa manhã amarela
de lágrima derramada
ou rosto seco de madrugada
tristeza será fria
ponta de melancolia
um vazio, uma falta, um lamento
por um fio me assalta o sofrimento
faz-se ouvir, sentir
calado, quieto, por perto
bem de perto
vem do centro o encantamento da grandeza
lá de dentro o movimento da tristeza.
A vida num filme
Às vezes me pego, em movimento
Pensando penando, pensando no tempo
Ao caso a ferida, chamada de vida
E a vejo como uma, uma grande película
Um único filme, um filme diário
Nossa despedida, um documentário
Subjetivo, sem objetivo
Um filme que vemos, por anos e anos
História de amores, de dores, de planos
Talvez acabe no meio, talvez vá até o fim
Um filme protagonizado por mim
Sem volta e às voltas com reviravoltas
De roteiro improvisados dia a dia
Com filmes dentro do filme, metalinguagem vazia
Um filme em fita ou disco, não avança ou rebobina
Assiste, atua, vive e um dia, assim, termina.
20/05
Sem ar
A queda fria que cai da nascente
Me deixa sem ar
Bate em meu rosto, gelada, com gosto
Faz-me não respirar
Com os anseios seguros no pulmão
Então, me ponho a navegar
Na estrada deserta
Que me desperta
Devagar
Devagar, por vagar, a vagar
Sou um animal em busca de uma vaga
Uma vaga para um simples respirar.
21/05
Essa gente
Dessa gente que me passa
No caminho
Dessa gente que me olha assim
Sozinho
Gente estranha, esquisita
Corre, corre, aqui, aflita
Apressada, vai e vem, vem e volta
Da vida
Atrasada pro que tem, tem e solta
Com olhos de serpente
Boca de vidente
E olhares tão vazios
Fugidios
Enquanto me oriento e determino
Considero meu destino
Sorridente, não me compreendo
Esqueço, e até agradeço
Entendo com seu preço
Por entre ruas sujas
Suas na minha medida
Escuras de pintura anoitecida
Sentida dessa gente tão perdida.
22/05
MM
Se apaixonou sem querer,
Se apaixonou por você
O desenho das mãos de lado
O canto mais afinado
Sonhando em beijá-la, sê-la
Romântico não tê-la
Conquistado e rendido
Hipnotizado quando submetido
À visão de uma rainha branca
Cabelos negros, boca vermelha
Espanta sua presença que espelha
Em música de ti, tornada aqui
Qualquer coisa mitológica
Demovida de lógica
E que razão tem a paixão
Quando o mundo grita 'não'?
23/05
Um
Será pois um
A mais que não
Solo então
Apenas um
De orgulho, ou um governo qualquer
No escuro, nos braços de uma mulher
Um
No inverno, penando a gelar
Num pedaço do ano solar
Haverá luz por quem lhe conduz
E será um
No conflito, dito, restrito
Ao corpo do esforço
Por ti torço
Por medo nenhum, temor algum
Que te baste ser um.
24/05
Passando, passando
E caminha por pegadas apagadas
Fundadas em pés de histórias tão passadas
O chão que se desenha se desdobra
De página em página, revela sua obra
Imortal enquanto dura
Eterno enquanto triste
Existe, assiste, perdura
À melodia da lembrança pura
E o legado deixado pra trás
Reminiscências finais
De quem já esteve e já foi
E já não é mais.
E caminha por cima dos anos
Por cima dos beijos, da mágoa e da fé
Caminha, me leva e nos vamos
A outra praia, nos vamos a pé.
25/05
A roda da rima
Chama-me rente, só minha
Clama decente, rainha
Trama o presente, sozinha
Ama a serpente, madrinha
A governança do caos
Sobrepujança dos paus
Na temperança dos saraus
Desesperança dos maus
O cheiro da estranheza
Tempero da impureza
Terreiro da incerteza
Caseiro da realeza.
26/05
A ousadia e alegria do menino que sonhava
E o que será mais bonito que sonhar?
Um sonho realizado
Apenas o começar
De um caminhar a ser traçado
Vai guri, ninguém te segura mais aqui
Vai guri, estamos todos torcendo por ti
Talvez por nós mesmos, pelo país
Mas escrevendo torço pra que sejas feliz
Porque és o sonho em menino boleiro
O sonho do futebol brasileiro
E acima de tudo, o garoto do sonho
Drible fácil, já pai de família, risonho
Sonhava grande, entre os melhores
Chegou tua hora, és dos maiores
Vai atrás da tua coroa, Ney
Deixa de ser príncipe, vai ser rei.
27/05
Vestidos de caneta e papel
Entre os sons há os sonhos
Escondidos, puídos, medonhos
Vestido de caneta e papel
Mirando o limite do céu
De escolhas, opções, intuições
A coragem de formar proposições
Entre os sonhos há histórias
Há mentiras, nervos, glórias
E detalhes de uma vida
Assim urdida
O mergulho, em si, inteiro
Verdadeiro
Entre as histórias havemos nós,
Sonhadores
Ousados de sonhar, escritores
Escrevendo nosso ser
Escrever
Sendo em nós o que queremos
Seguiremos.
28/05
Os olhos do rosto vermelho encaram
A escolha é uma máscara vermelha
Desaparecendo em escuridão
Fantasmagoria traiçoeira
Engana teus olhos, tua visão
Valia ameaçadora
Sombria e assustadora
Sorria de prisão
O rosto brilhoso escarlate
Uma fila de signos embaralhados
É rubro de sangue o quilate
A teia de todos significados
A mensagem do inconsciente
Ascendente sobre a ilusão
A imagem limpa, gravada na mente
A escolha doente, traição
Perversão, arrefece tua semente
Aquela que circula em solidão.
29/05
noite adentro
eis que a noite se estende
se vai
desfaz em paz
e lembra o que teria sido
o que foi
e o não temido
pela janela, ao passo dela
como quem aprende com a hora
como olhar, ver, manter-se fora
marginal se mostra
silenciosa encosta
seu charme em meu terreno
sensual, sexual, a noite se rende
se derrete
reflete os desejos
e os incita
e os dissipa
celebra a cegueira
à sua maneira
desfaz o cheiro de calma
atende aos apelos da alma.
30/05
Vez
A vez que te encontrei
Foi a vez que me prendi;
A vez que te falei
Foi a vez que te perdi
A vez que te olhei
Foi a vez que me iludi
A vez que me enganei;
Foi a vez que conheci
A mentira que enxerguei
Foi a vez que vi partir
Quem eu tanto esperei
Foi minha a vez de cair
A vez que te enfrentei
Foi a vez que mais sofri
Chorei, minha vez, chorei
Chorei, minha vez, pedi;
Chorei, minha dor, cantei
A vez em que te esqueci.
31/05
tristeza será
tristeza será linda
tão bem-vinda quanto finda
será bela
numa manhã amarela
de lágrima derramada
ou rosto seco de madrugada
tristeza será fria
ponta de melancolia
um vazio, uma falta, um lamento
por um fio me assalta o sofrimento
faz-se ouvir, sentir
calado, quieto, por perto
bem de perto
vem do centro o encantamento da grandeza
lá de dentro o movimento da tristeza.