Encruzilhada

Encruzilhada

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Um poema por dia - 17/05 - Mal-estar

17/05

Mal-estar

O mal-estar
Estar
Está
Por vir a ser
Por não ser, eis a questão
Que coloca no olho do furacão
O diapasão
Da solidão que é o mal
Estar em que se encontra
É o que se compra na televisão
Quem vai pagar, quem vai vender
Você vencer viver vir ver
E ler
O que se escreve na biografia
Geografia de quem foi, do boi
Epitáfio de dia:
"Aqui esteve o mal
Em si, se vá
Estava em mim
O mal-estar, está".

Uma boa história

História curiosa: o poeta Antonio Cabral Filho estava no ponto de ônibus e encontrou, no lixo, aos seus pés, o jornal 'O Globo' com a reportagem sobre o blog e o projeto 'Um poema por dia'. 

Leu, curtiu e recomendou.

Ele conta esta história no post do seu próprio blog, 'Antonio Cabral Filho verso & prosa'.

http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br/2013/05/cronicas-do-lirismo-imediato-1-poesia.html?showComment=1370016990210#c6667992392581157008

Música do dia #12 - Just Like a Woman - Jeff Buckley

Just Like a Woman - Jeff Buckley
Composição: Bob Dylan

Letra

Nobody feels any pain
Tonight as i stand inside the rain
Ev'rybody knows
That baby's got new clothes
But lately i see her ribbons and her bows
Have fallen from her curls.
She takes just like a woman, yes, she does
She makes love just like a woman, yes, she does
And she aches just like a woman
But she breaks just like a little girl.

Queen mary, she's my friend
Yes, i believe i'll go see her again
Nobody has to guess
That baby can't be blessed
Till she sees finally that she's like all the rest
With her fog, her amphetamine and her pearls.
She takes just like a woman, yes, she does
She makes love just like a woman, yes, she does
And she aches just like a woman
But she breaks just like a little girl.

It was raining from the first
And i was dying there of thirst
So i came in here
And your long-time curse hurts
But what's worse
Is this pain in here
I can't stay in here
Ain't it clear that --
I just can't fit
Yes, I believe it's time for us to quit
When we meet again
Introduced as friends
Please don't let on that you knew me when
I was hungry and it was your world.
Ah, you fake just like a woman, yes, you do
You make love just like a woman, yes, you do
Then you ache just like a woman
But you break just like a little girl.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Um poema por dia - 16/05 - Ericson

16/05

Ericson

O poeta se foi
Choro por ele
E toda vitalidade, potencialidade
Toda visceralidade e sinceridade
Do que se encontra no chão
Um vão do em vão
Vai, ai
De mim, assim, é sim
Que vai, que foi
O poeta se foi
E o descubro já ido
Partido, ruído, caído, vivo
Vivo! Pois vive em poesia
Na maestria das palavras escritas
Bonitas, intensas, imensas, propensas a falar
O poeta se foi e mas ainda está.

Comentário texto 'Rasga Coração', de Oduvaldo Vianna Filho

 Quero escrever sobre ‘Rasga Coração’. Pelo poder que exerceu sobre mim. E pelo poder que pode exercer sobre você.

Passei a tarde e a noite de ontem arrebatado pelo texto de teatro de 1974 escrito por Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha. Reza a lenda que Vianinha começou a escrever ‘Rasga...’ já debilitado por conta de um câncer no pulmão e ditou as últimas páginas do texto. Morreu aos 38 anos, logo depois de terminar a obra. E ‘Rasga Coração’, é tão intenso que parece que Vianinha disse tudo o que queria dizer e esse processo culminou com sua morte.

Exageros à parte, trata-se de uma realização soberba. Não apenas uma peça de teatro, mas uma realização por tudo que é dito e alcançado na proposta do autor. A versão que eu li possui três citações antes da seguinte introdução:

"Somos
profissionais
não vamos agredir
agredir não é fácil, mas transfere responsabilidades
viemos aqui cumprir a nossa missão
a de artistas
não a de juízes de nosso tempo
a de investigadores
a de descobridores
ligar a natureza humana à natureza histórica
não estamos atrás de novidades
estamos atrás de descobertas
não somos profissionais do espanto
para achar a água é preciso descer terra adentro
encharcar-se no lodo
mas há os que preferem olhar os céus
esperar pelas chuvas"

Entendem onde quero chegar? O tamanho do lirismo e a força desta obra? E o texto em si sequer começou! Ainda nesta versão, há um prólogo inédito com dois fragmentos onde Vianinha já começa rompendo com o ritualístico e defendendo o teatro como lugar de contemplação e o artista como o profissional que apresentará esse processo:

"Um teatro é o único lugar em que estamos presentes não estando
em que participamos dos acontecimentos que entretanto só acontecem
porque não estamos neles
É uma sensação doce demais, descoberta dos gregos quando descobriram
que o destino depende da maneira como entendemos"

Adotando muita ironia, Vianinha despe-se de vaidade para assegurar que sua ruptura inicial, começando a peça de modo ‘desavisado’ não tem nada de original, os gregos a inventaram há muito tempo.

E todo esse jogo é apenas o começo de um espetáculo em que o autor passeia pela História do Brasil (da Revolução de 30 à Ditadura Militar) trazendo através do conflito de gerações, os pontos de vista de pai e filho em questões políticas e sociais, fazendo um amargo retrato das expectativas e desilusões (em especial da classe média brasileira) através dos tempos.

Usando como centro Custódio Manhães Jr., o ‘Manguari Pistolão’, Vianinha cria um protagonista ativista político, simpático a ideias de esquerda. ‘Herói anônimo’, como é considerado por outros personagens por sua militância, Manguari possui um grande conflito de ver-se diferente do filho, em quem ele não se reconhece pela suposta falta de interesse do jovem em política ao mesmo tempo em que se vê tomado pelos mesmos impulsos conservadores que seu pai teve antes dele.

Extremamente político sem nunca ser panfletário, repleto de tipos incríveis como Lorde Bundinha, ‘Rasga Coração’, além de uma aula de História do Brasil – deveria ser estudado nos colégios – é poesia pura. Um texto honesto, revelador, transformador, ousado, extremamente arrojado, com uma proposta de encenação moderníssima com suas idas e vindas no tempo, uma verdadeira obra-prima.

“Se tu queres ver a imensidão do céu e mar
refletindo a prismatização da luz solar
Rasga o Coração, vem te debruçar
sobre a vastidão do meu penar”
Catullo da Paixão Cearense — Anacleto Medeiros
música “Rasga o Coração”

Música do dia #11 - Um índio

Um índio - Maria Bethânia
Composição: Caetano Veloso

Letra
Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias
Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá
Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito
(Refrão)
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Um poema por dia - 15/05 - Matá-lo

15/05

Matá-lo

Quero me desvencilhar de você
Matar
E sobreviver
No ato, do alto da última altura
Esta figura
Em sua assinatura
Deixou pra mim o 'porque'

Quero me desvencilhar de você
Te matar
Deixar de aprender
Saber o que meu é teu
O que sou eu
Para abraçar o que puder ser

Quero me desvencilhar de você
Pois o que apregoa ainda ecoa
Em minha cabeça, para que não esqueça
Que nem exilado, separado ou desvencilhado
Deixarei de segui-lo.

Meu querido, mais querido,
Meu amigo.

Um poema por dia - 14/05 - E quem se importa com a rosa a essa hora?

14/05

E quem se importa com a rosa a essa hora?

'E que me importa'
Sopra a rosa
Gira a roda
A roda rosa
A rosa gira
Sopra e vira
Vira-mundo, vira-tudo
Vira-roda
Que se importa
Vira a rosa
'Divina e graciosa
Estátua majestosa'
Da demora
Da hora
Da roda
E quem se importa com a rosa agora?

Música do dia #10 - A urgência - Dead Fish

A urgência - Dead Fish
Composição: Dead Fish e Bil


Letra

Hoje é o dia da revolução 
Não há ninguém nas ruas 
Você está sozinho 
Pronto... pra sujar as mãos 

Muito antes de dizer 
Não havia tempo pra agir 
Esquecer tudo o que leu 
Más teorias pra cuspir 

Muitos já tentaram, muitos vão morrer 
Seja justo, não há causa, não ceda a outra face pra bater 

Há urgência em estar vivo 
Outra forma de pensar 

Mais do que esperar 
Mais do que dizer 
Eu prefiria... te ver... 
No fundo dos teus olhos... descobrir 

Se há deuses ou heróis 
Bandas, compras, drogas pra usar 
Tantas coisas pra salvar 
Dê a tudo isso algum valor

Onde quer que pise... ande onde quiser 
Aceite as consequências do que acha que te faz melhor 

Há urgência em estar vivo 
Outra forma de agir 
Desrespeitar sua constante dor! 

Há urgência em estar vivo 
Outra forma de pensar 
E assumir... outro valor 

Implodir... implodir... 
Implodir de novo



terça-feira, 28 de maio de 2013

Um poema por dia - 13/05 - Ser outro, outro ser

13/05

Ser outro, outro ser

Há eu, há sim, há um
Não há, há não, nenhum
Há outro, há
Já, Já, Ha-Ha-Ha-Ha
Só há, soluto
Agudo, hirsuto
O outro só
Só hei, sou só

Por ser do outro
Que sem saber
Me cerca o nó
Em dó fa mi
Ré lá si sol
Não sei se ser souber
Senão será sempre sequer.

Música do dia #9 - Somewhere (There's a place for us) - West Side Story

Somewhere (There's a place for us) - West Side Story*

Composição: Leonard Bernstein & Stephen Soundhein, com uma frase musical do 'Concerto de Piano para o Imperador', de Beethoven e uma outra frase musical do tema principal de 'O lago dos cisnes', de Tchaikovsky.

*Apesar de o filme ser estrelado por Richard Beymer e Natalie Wood, na trilha sonora oficial, quem solta a voz mesmo são Jim Bryant e Marni Nixon.

                               

Letra

There's a place for us
Somewhere a place for us
Peace and quiet and open air
Wait for us
Somewhere
 

There's a time for us
Some day a time for us
Time together with time spare
Time to learn, time to care,
Some day!

Somewhere
We'll find a new way of living
We'll find a way of forgiving
Somewhere

There's a place for us,
A time and place for us
Hold my hand and we're halfway there
Hold my hand and I'll take you there
Somehow,
Some day,
Somewhere! 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Um poema por dia - 12/05 - Mater

12/05

Mater

'Mãe é o nome de deus
Nos lábios de uma criança';
São por ti, serão teus
Nossa espera, esperança

De um novo existir, um novo ser
Por dar à luz, iluminar
Teu tipo único de poder
Fazer nascer, assim criar

Assim lhe chamo: a mãe de tudo
De sobrenome natureza
Origem, símbolo; vida, mundo
Caos, equilíbrio; paz e beleza.

domingo, 26 de maio de 2013

Reportagem 'O Globo' 26/05/2013


Música do dia #8 - Samba a dois


Samba a dois - Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo




Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?
Quem se atreve a me dizer?
Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?
Quem se atreve a me dizer?
Não, eu não sambo mais em vão
O meu samba tem cordão
O meu bloco tem sem ter e ainda assim
Sambo bem à dois por mim
Bambo e só, mas sambo, sim
Sambo por gostar de alguém, gostar de
Me lava a alma, me leva embora
Deixa haver samba no peito de quem
Se atreve a me dizer
Do que é feito o samba ?
Quem se atreve a me dizer?
Quem se atreve a me dizer?
Do que é feito o samba ?
Quem se atreve a me dizer?
Quem me ensinou a te dizer
"Vem que passa o teu sofrer"
Foi mais um que deu as mãos entre nós dois
Eu entendo o seu depois
Não me entenda aqui por mal
Mas pro samba foi vital falar em
Me laça a alma, me leva agora
Já que um bom samba não tem lugar nem
Se atreva a me dizer
Do que é feito o samba
Nem se atreva a me dizer
Nem se atreva a me dizer
Do que é feito o samba
Nem se atreva a me dizer
Nem se atreva a me dizer
Do que é feito o samba
Nem se atreva a me dizer
Nem se atreva a me dizer
Do que é feito o samba
Nem se atreva a me dizer
*Livremente inspirado neste refrão, no dia 07/02 escrevi este poema, do qual gosto muito.
"Quem se atreve a me dizer"

E a poesia, o que será?
Mistério jogado no ar
Alguém como tu me dirá
Mera brincadeira de rimar

E irei, sem rima então,
Ou qualquer semelhante
Parto a me lavar a alma
Auto-condenado a criar
Se nunca houve, faço como quero
Com própria lei
Atrás de melodia
Destino das palavras

Escrevendo sons, governando tons
E já me volto a combinar
Pois cá estou pra terminar
E uma vez mais perguntar
E a poesia, o que será?

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Um poema por dia - 11/05 - Do que poderia ter sido

11/05

Do que poderia ter sido

Uma verdade calada
A ocasião de um desencontro
A escolha mal fadada
O não retorno de um ponto

Aquela história não aconteceu
Houve um amor que não se viu
Num porém, o momento se perdeu
Quem disse que ia ficar, partiu

'E se', promete o condicional
A uma versão imaginária do real
E se não feito, se não desfeito
Se não falado, encontrado, escolhido
O que faria, quem seria
O que poderia ter sido?

Comentário Show Gilberto Gil: Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo


Gilberto Gil: Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo


Uma vez eu tive o privilégio de encontrar Gilberto Gil ao vivo. Pude entrevistá-lo num Tá na Área da Copa de 2010, no SporTV. Até então, conhecia pouco da obra do homem. Mas quando ele entrou no estúdio, senti uma energia diferente. Senti que estava diante de alguém muito especial. E não apenas por sua simpatia, elegância e importância, mas por algo que não se vê, algo que ele carrega consigo.

Gil é quase uma divindade, uma entidade. Sua energia, sua presença, sua classe. Sem dúvidas, um sujeito elevado.

Fora sua qualidade e relevância para a música brasileira (e mundial). Ver Gil ao vivo, portanto, é testemunhar não só um monstro, como um monumento, e um pedaço da história da música. Sem dúvida, é um dos grandes.

O show com a orquestra sinfônica de Salvador e os homens das cordas (Bem Gil na guitarra e violão, Nicolas Krassik no violino e Jaques Morelenbaum no tchello – fazendo também as vezes de maestro nas músicas que não toca) e do ritmo (o percussionista Gustavo Di Dalva) é simplesmente arrebatador. Os arranjos das músicas que combinam violão e instrumentos da orquestra são de uma beleza de cair o queixo.

De sandálias, Gil passeia pela Tropicália (Domingo no Parque, Panis et Circenses), vai de ‘Oriente’ a ‘Expresso 2222’, canta ‘Andar com fé’ e homenageia quem ele mesmo chama de ‘mestres’: Tom Jobim, Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga. Naturalmente simpático, conversa com o público contando causos como quando o carcereiro da cadeia lhe perguntou se ele queria um violão (‘E pode?’, ele responde). No fim da história, Gil compôs na prisão e acabou fazendo um show para os militares do local. Há ainda a história de quando conheceu Jimi Hendrix no camarim de Miles Davis (‘Parece um mulato de Santo Amaro’, diz Caetano).

Gil ainda canta em inglês, espanhol e francês, economiza alguns agudos sem deixar de disparar seus gritos lá no alto e vai fundo nos graves, além de desfilar toda a sua musicalidade ao cantar que não tem medo da morte sozinho no palco e usando o violão apenas para batucar.

Aos 70 anos (idade que ele não parece ter de jeito nenhum) e em plena atividade, Gil mistura erudito, folclórico, regional, tradição, raiz, África, Europa e Nordeste, e sem nenhuma necessidade, prova uma vez mais o que já sabemos. 

Que é um homem muito especial.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Música do dia #7 - Little Lion Man

Little Lion Man - Mumford & Sons
Composição: Ted Dwane, Ben Lovett, Marcus Mumford and Country Marshall


Letra
Weep for yourself, my man,
You'll never be what is in your heart
Weep little lion man,
You're not as brave as you were at the start
Rate yourself and rake yourself,
Take all the courage you have left
Wasted on fixing all the problems that you made in your own head
But it was not your fault but mine
And it was your heart on the line
I really fucked it up this time
Didn't I, my dear?
Tremble for yourself, my man,
You know that you have seen this all before
Tremble little lion man,
You'll never settle any of your score
Your grace is wasted in your face,
Your boldness stands alone among the wreck
Now learn from your mother or else spend your days biting your own neck
But it was not your fault but mine
And it was your heart on the line
I really fucked it up this time
Didn't I, my dear?

Um poema por dia - 10/05 - O casamento

10/05

O casamento

Muito após o pedido
Minha mão está contigo
Ouvindo coisas sem sentido
Que não nos tiram o sorriso

Sim, te quero comigo
Sim, serei teu amigo
Teu amigo, o mais querido
Rumo ao desconhecido

E prometo amar-te e respeitar-te
Ser teu companheiro,
Por inteiro
Fazendo-nos iguais
Correndo a vida juntos,
Nada mais.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Música do dia #6 - O que você quer saber de verdade

O que você quer saber de verdadeMarisa Monte
Composição: Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte

Vai sem direção
Vai ser livre
A tristeza não
Não resiste
Solte os seus cabelos ao vento
Não olhe pra trás
Ouça o barulhinho que o tempo
No seu peito faz
Faça sua dor dançar
Atenção para escutar
Esse movimento que traz paz
Cada folha que cair,
Cada nuvem que passar
Ouve a terra respirar
Pelas portas e janelas das casas
Atenção para escutar
O que você quer saber de verdade

terça-feira, 21 de maio de 2013

Um poema por dia - 09/05 - A vitrine da vovó

09/05

A vitrine da vovó

"Toda minha vida está aí'
Ela me diz
Como quem quis
Me convidar a entrar

Cá está
Tudo em seu lugar
Entre lembranças
Heranças
Do amor
Do avô

À melodia de uma caixinha de música
Há memória
História
E ela deixa de ouvir para estar
Entre palhaços, canetas tinteiras
Milhares de peças resistem inteiras
Unidas, coladas, se soltam, separam
Pedaços da vida
Escurecida, se apagam

Entre livros e jóias
Louças e oração
Entre o silêncio se colocam
As notas de uma canção

Do que nos deixa, do que se foi
Do que se vai, do que ficou
Uma melodia repetida e ouvida
Através do tempo, dos anos, da vida

Quero chorar, não consigo.
É algo maior que se junta comigo
Sobre o que é, o que fica
Sobre o que há, não se explica
Nesta tarde de maio, me domina, me ensina
E assim, de repente, se fecha e termina.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Música do dia #5 - Gimme Shelter

Gimme Shelter The Rolling StonesComposição: Mick Jagger e Keith Richards


Oh, a storm is threat'ning
My very life today
If I don't get some shelter
Oh yeah, I'm gonna fade away
War, children, it's just a shot away
It's just a shot away
Oh, see the fire is sweepin'
Our very street today
Burns like a red coal carpet
Mad bull lost its way
War, children, it's just a shot away
It's just a shot away
Rape, murder!
It's just a shot away
It's just a shot away
Rape, murder!
It's just a shot away
The floods is threat'ning
My very life today
Gimme, gimme shelter
Or I'm gonna fade away
War, children, it's just a shot away
It's just a shot away 
I tell you love, sister, it's just a kiss away
It's just a kiss away
Kiss away

Filmes e Memorabilia 2013 - Elena


76. Elena – 18/05 – cinema

Filme de rara beleza, ‘Elena’ é difícil de ser definido em gênero cinematográfico. Não é uma ficção, mas é complicado colocá-lo simplesmente como documentário. Poderia ser considerado um quase documentário, um documentário afetivo, um documentário subjetivo. Mas a melhor definição que pensei não é ficção, documentário ou qualquer outra que não uma carta filmada. Uma carta endereçada à própria irmã, motivo e personagem principal de toda jornada.

Ao constatar traços da personalidade sua falecida irmã mais velha em si mesma, a diretora, roteirista e atriz Petra Costa faz uma viagem de sensibilidade ímpar para reconstruir o caminho de Elena até a sua morte, por suicídio, em Nova York.

Petra usa imagens de arquivo, arquivo da família, encena reconstituições que se fazem passar por arquivo, e coloca o próprio corpo e rosto para servir de guia nas imagens atuais que cobrem gravações em off da irmã, passagens que ela mesma narra, sempre endereçando-as a Elena e ainda alguns depoimentos, quase sempre da mãe. Tudo sob uma trilha sonora deslumbrante, contando com material original e material licenciado.


Sempre filmando subjetivamente, Petra alcança um nível de aproximação e intimidade assombrosas e acaba construindo uma obra sensorial melancólica, dramática, poética ao extremo e muito pessoal, porém sem nunca deixar de ser relevante ao público enquanto experiência.

Ao fim, estamos tão próximos de toda a história de Elena que temos a vontade de encontrar a família, em especial mãe e filha, para dar-lhes um grande abraço. Há aqueles que rejeitam a tristeza. Petra Costa abraçou a triste história de sua irmã e fez dela um grande poema cinematográfico, uma linda realização que a ajuda a superar a perda, o medo de seguir o mesmo caminho e ainda colocar a irmã num lugar em que ela esteja bem: o da saudade, da memória.

MEMO: Qualquer momento em que Elena apareça dançando, em especial o primeiro do filme, com ela quase deixando de ser criança, de vestido, em casa; o corte feito de Elena para a mãe num quadro quase igual, em preto e branco, evidenciando a semelhança entre as duas; Elena filma a lua e faz o ponto luminoso dançar diante de sua câmera enquanto responde a quem lhe perguntara 'Tá dançando sozinha' 'Não, tô dançando com a lua; as mulheres flutuando de vestido nas águas.


Música do dia #4 - Não tenho medo da morte

Não tenho medo da morte - Gilberto Gil
Composição - Gilberto Gil

Não tenho medo da morte

Mas sim medo de morrer
Qual seria a diferença
Você há de perguntar
É que a morte já é depois
Que eu deixar de respirar
Morrer ainda é aqui
Na vida, no sol, no ar
Ainda pode haver dor
Ou vontade de mijar
A morte já é depois
Já não haverá ninguém
Como eu aqui agora
Pensando sobre o além
Já não haverá o além
O além já será então
Não terei pé nem cabeça
Nem figado, nem pulmão
Como poderei ter medo
Se não terei coração?
Não tenho medo da morte
Mas medo de morrer, sim
A morte e depois de mim
Mas quem vai morrer sou eu
O derradeiro ato meu
E eu terei de estar presente
Assim como um presidente
Dando posse ao sucessor
Terei que morrer vivendo
Sabendo que já me vou
Então nesse instante sim
Sofrerei quem sabe um choque
Um piripaque, ou um baque
Um calafrio ou um toque
Coisas naturais da vida
Como comer, caminhar
Morrer de morte matada
Morrer de morte morrida
Quem sabe eu sinta saudade
Como em qualquer despedida.

domingo, 19 de maio de 2013

Um poema por dia - 08/05 - João, meu irmão

08/05

João, meu irmão

É meu irmão,
Homem de criação
À procura de si
Como todos daqui

É meu sangue
Minha gíria
Meu igual
Minha família

Hoje não há certo ou errado,
Bruto de sorriso puro;
Hoje celebro nosso passado
Hoje aposto em nosso futuro

Tua voz é minha voz
O teu jeito, meu trejeito
Irmão de corpo, rosto, feroz
Aqui lhe faço meu respeito

Touro como o pai
Cascudo como a mãe
Carisma como o irmão;

Às vezes um moleque
Por sempre foi Vicente
Pra sempre é meu João.

Filmes e Memorabilia 2013 - Looper

75. Looper - 17/05 – DVD


A crise de conteúdo em Hollywood é tamanha que um filme regular de roteiro original e com uma premissa criativa chama a atenção (apesar de não necessariamente faturar alto, o que de fato interessa para a indústria).


É extremamente louvável o esforço do autor e diretor Rian Johnson em fazer seu nome no cinema americano. ‘Looper’ é seu terceiro longa-metragem; os outros foram ‘A ponta de um crime’ (2005) – que não vi – ‘Vigaristas’ (2008) – que vi, mas apesar de interessante, confesso que não lembro muito, preciso ver de novo... – todos escritos e dirigidos por ele. Apesar de independente, Johnson consegue atrair gente bacana para os seus projetos (Adrien Brody, Mark Ruffalo e Rachel Weisz em ‘Vigaristas’; Bruce Willis, Jeff Daniels, Emily Blunt e Joseph Gordon-Levitt – que também esteve em ‘A ponta...’ – neste aqui).

Com pouca visibilidade nos cinemas, já vi ‘Looper’ ser apontado como um futuro cult, com uma pérola da ficção científica futurista, etc. Sempre me interesso muito pelo tema viagens no tempo e a premissa aqui é original e quase filosófica ao passo             que existe um conflito concreto entre eliminar ou não a sua própria versão do futuro. Pessoalmente, acredito que se Rian Johnson tivesse se mantido focado nesta questão o filme chegaria muito mais longe.

Dividir a atenção entre o Joe do futuro (Bruce Willis) e o do presente (Joseph Gordon-Levitt) é interessante e ousado narrativamente, assim como o desenvolvimento de uma trama maior em torno do protagonista, mas acho que essa divisão acaba reduzindo a força e a presença do personagem principal, cuja jornada quase se torna coadjuvante em relação à procura pela tal criança Rainmaker. Também acredito que, apesar de Bruce Willis ser um monstro do carisma, o personagem poderia ter sido mais desenvolvido por outro ator pela complexidade da situação e da própria persona do homem – convenhamos, não é de hoje que Bruce Willis parece atuar no piloto-automático do carisma, pagando sempre de sou-herói-de-filme-de-ação.

Ao mesmo tempo, é bonito ver Rian Johnson corajoso, abraçando a ambiguidade e deixando de lado qualquer maniqueísmo na construção de seus personagens, chegando a botar Bruce Willis para assassinar uma criança inocente a sangue frio. Também é admirável a maneira como o realizador se preocupa com todo o tratamento do conceito de sua obra, equilibrando-se entre o baixo orçamento (U$30 milhões nos EUA é baixo orçamento) e a criação de conceitos interessantes, tanto na história, com a telecinese originada de uma mutação genética e a própria dinâmica de funcionamento dos loopers, quanto na encenação, com a maquiagem de Joseph Gordon-Levitt, de modo a deixa-lo mais parecido com Bruce Willis. Somada à atuação precisa de Gordon-Levitt, que às vezes emula uma versão jovem dos trejeitos de Bruce, o conceito funciona muito bem.

Apesar das boas intenções, fiquei com um gosto de um filme regular que ‘poderia ser muito melhor’. Além da excelente premissa original não desenvolvida a contento, o filme possui uma penca de furos (regra ao se tratar de um filme de viagem no tempo, mas acompanhe alguns neste divertido vídeo) e se entrega a um sem-número de clichês que, particularmente, me irritaram, tais como os tiros que não acertam o sujeito de jeito nenhum, o envolvimento romântico sem muito fundamento, a explicação em off, a stripper, entre alguns outros.

Ainda que mereça aplausos, talvez mais pelo esforço de trabalho realizado do que pela realização em si (e faltou citar a atuação assustadoramente realista do menino Pierce Gagnon), ‘Looper’ também merece um puxão de orelha ainda por se dar ao luxo de praticamente desperdiçar a presença de Jeff Daniels e Paul Dano.

MEMO: O corte de perspectiva da queda do jovem Joe pela janela no presente para a vida dele até se tornar o velho Joe que acaba voltando no tempo é absolutamente fantástico.

Trailer

sábado, 18 de maio de 2013

Música do dia #3 - Triste Bahia

Triste Bahia - Caetano Veloso

Composição - Caetano Veloso, com parte do poema 'Triste Bahia', de Gregório de Matos, o Boca do Inferno!


Triste Bahia, oh, quão dessemelhante…
Estás e estou do nosso antigo estado
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado
Rico te vejo eu, já tu a mim abundante
Triste Bahia, oh, quão dessemelhante
A ti tocou-te a máquina mercante
Quem tua larga barra tem entrado
A mim vem me trocando e tem trocado
Tanto negócio e tanto negociante
Triste, oh, quão dessemelhante, triste
Pastinha já foi à África
Pastinha já foi à África
Pra mostrar capoeira do Brasil
Eu já vivo tão cansado
De viver aqui na Terra
Minha mãe, eu vou pra lua
Eu mais a minha mulher
Vamos fazer um ranchinho
Tudo feito de sapê, minha mãe eu vou pra lua
E seja o que Deus quiser
Triste, oh, quão dessemelhante
ê, ô, galo canta
O galo cantou, camará
ê, cocorocô, ê cocorocô, camará
ê, vamo-nos embora, ê vamo-nos embora camará
ê, pelo mundo afora, ê pelo mundo afora camará
ê, triste Bahia, ê, triste Bahia, camará
Bandeira branca enfiada em pau forte…
Afoxé leî, leî, leô…
Bandeira branca, bandeira branca enfiada em pau forte…
O vapor da cachoeira não navega mais no mar…
Triste Recôncavo, oh, quão dessemelhante
Maria pé no mato é hora…
Arriba a saia e vamo-nos embora…
Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora…
Oh, virgem mãe puríssima…
Bandeira branca enfiada em pau forte…
Trago no peito a estrela do norte
Bandeira branca enfiada em pau forte…
Bandeira…

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Um poema por dia - 07/05 - Havemos, hão, há

07/05

Havemos, hão,

Há quem sofra
Quem lamente
Há quem fuja
Quem se ausente

Há o perdido
O trovador
Há o vencido
O desbravador

Há quem não pense
Há quem não viva
Há quem não tente
Há quem não sinta

Há quem não veja
E o que não sonha
Há quem esteja
Sob a própria sonha

Há quem pereça
Por ser própria calma
E há quem se esqueça
De que tem alma.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Filmes e Memorabilia 2013 - Dentro da casa


66. Dentro da casa – 03/04 - Cinema


Francois Ozon é um realizador diferenciado. Inquieto e prolífico, desde 2002 consegue manter uma média woodyalleniana de um filme por ano, passeando entre gêneros e entregando bons filmes como ‘Swimming Pool’ e o extraordinário ‘Amor em cinco tempos’.

Quase sempre de posse de um olhar cínico em relação à sociedade, aqui Ozon brinca – como já havia feito em ‘Swimming Pool’ – com o processo criativo na escrita, produzindo um atmosfera de thriller no decorrer do processo.

Adaptando o texto ‘El chico de la ultima fila’, do dramaturgo contemporâneo espanhol Juan Mayorga (‘Hamellin’, ‘A tartaruga de Darwin’), o francês investe na metalinguagem para discutir as liberdades que a ficção toma quando se baseia na realidade, além de outros temas como mediocridade e frustração.

Para a tarefa, Francois Ozon conta com, pelo menos, um quarteto inspirado: Fabrice Luchini (o professor Germain), Ernst Umhauer (o aluno Claude), Kristin Scott Thomas (a mulher do professor, Jeanne) e Emmanuelle Seigner (Esther, mãe do amigo de Claude).

O resultado é um filme intrigante, que decupa os meandros da escrita literária, cresce e toma rumos inesperados conforme sua narrativa avança, sempre sendo conduzida com elegância e alguma acidez por esse sempre relevante cineasta, Francois Ozon.

MEMO: (ATENÇÃO: O TRECHO A SEGUIR REVELA UM EPISÓDIO IMPORTANTE DO ENREDO): O beijo de Claude e Esther.

Música do dia #2 - Se todos fossem iguais a você

Foi trabalhando com essa música que me apaixonei pelo teatro, há quatro anos.

"Se todos fossem iguais a você" - interpretado por Gal Costa
Composição - Tom Jobim e Vinícius de Moraes

Vai tua vida
Teu caminho é de paz e amor
A tua vida
É uma linda canção de amor
Abre os teus braços e canta
A última esperança
A esperança divina
De amar em paz
Se todos fossem
Iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar, a sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar
Como o sol, como a flor, como a luz
Amar sem mentir, nem sofrer
Existiria a verdade
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo iguais a você
*no exercício de interpretação proposto pelo mestre Almir Telles, antes de cantar esta canção eu deveria interpretar o monólogo de Orfeu, também escrito por Vinícius para o espetáculo 'Orfeu da Conceição', em 1954.

Vai de lambuja, para ouvir, na interpretação de Maria Bethânia, ou para ler:

Mulher mais adorada!
Agora que não estás,
deixa que rompa o meu peito em soluços
Te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
É mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.
E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem,
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;
Tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.
Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
que me dão essa força, esse orgulho de rei.
Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música.
Nunca fujas de mim.
Sem ti, sou nada.
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo,
minha amiga mais querida!
Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu,
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres -
que ele, Orfeu,
Ficasse assim rendido aos teus encantos?
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo.