Encruzilhada

Encruzilhada

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Um poema por dia - 14/01 - Tenho estado

Um dos meus favoritos até aqui.

14/01

Tenho estado

Tenho estado
Meio relaxado
Meio baleado
Assim, meio de lado
Jogado, rolado, deixado
Como que mareado
Ou mesmo relegado
Renegado, encostado
Apavorado e assustado
Sendo anestesiado
Subestimado, aqui deitado
Ainda que solucionado
Cá estou, acorrentado
Quase que resignado
Com o atestado acertado
Comunicado e publicado
E eu, mal-frequentado
Comissionado e condenado
Ando meio desligado.

Tenho estado
Meio parado
Admito, acomodado
Por demais sossegado
E entediado
E endiabrado
Aqui, trancado
Como um exilado
E ainda excitado
Sendo transformado
Logo perturbado
Muito mal-falado
Quase nem citado
Tão pouco lembrado
Tudo que foi dado
Não foi reclamado
Está terminado
E abandonado
Deixa perdoado
Ando meio desligado.

Filmes e Memorabilia 2013 - Quadrilogia Máquina Mortífera


26. Máquina Mortífera – 18/01 – DVD – repetido


Ao lado de Duro de Matar, é outra jóia do cinema de ação americano dos anos 80. Policial, adulto (cheio de palavrões) e por vezes sombrio neste primeiro episódio, traz uma química fabulosa entre Gibson e Glover e uma trilha sonora elegante o suficiente para funcionar quase como um personagem do filme, cortesia de Michael Kamen e Eric Clapton. A produção ainda cumpre um grande papel ao não estigmatizar em momento algum o personagem de Murtaugh, um negro bem-sucedido, com uma linda família e casa no subúrbio. Não se fazem mais filmes assim.

MEMO: Riggs se joga de um prédio algemado a um suicida em cima de um colchão inflável.
  
27. Máquina Mortífera 2 – 20/01 – DVD – repetido

O segundo capítulo segue a fórmula de filme policial adulto, cheio de palavrões, doses de ação anos 80 e muito investimento nos personagens, dando prosseguimento à mitologia da série, mantendo o tom levemente sombrio do primeiro e explorando a química da dinâmica Gibson/Glover. A adição de Joe Pesci é um prazer à parte com o baixinho brilhando em cada cena.

MEMO: A bomba na privada; Riggs derruba uma casa inteira usando sua picape como rebocador.

28. Máquina Mortífera 3 - 20/01 – DVD - repetido

Mais do mesmo, sem culpa, com a volta de Joe Pesci e a chegada de Rene Russo. Este terceiro capítulo é mais ensolarado (como o cartaz quase cômico atesta): mantém o que funciona na série, aumentando um pouco a comédia em relação à ação e limando o que havia de sombrio nos dois primeiros filmes.

MEMO: Em meio a boas cenas de ação, memorável mesmo é a DR de Riggs e Murtaugh no barco.

*Acreditem ou não, depois de assistir aos três primeiros filmes no fim de semana, me deparo com uma sessão do último episódio da série começando na noite de domingo. Não resisti.

29. Máquina Mortífera 4 – 20/01 – TV - repetido 


Como resistir quando, depois de assistir os três primeiros filmes em três dias, você descobre que a quarta parte acaba de começar a passar na TV? Tentando manter o ritmo depois de 6 anos da parte 3, o roteiro assume a idade dos personagens e por vezes faz troça disso. Há um ligeiro excesso de personagens, o que acaba deixando a personagem de Rene Russo enfraquecida, mas no geral, a ameaça chinesa funciona, Jet Li funciona, Chris Rock funciona e Riggs e Murtaugh ainda tem bala pra gastar. É o capítulo mais cômico, o mais fraco, às vezes quase cai na auto-paródia, mas Gibson e Glover juntos fazem valer a pena. É digno e diverte.

MEMO: A luta final com Jet Li é brutal enquanto o interrogatório do Tio Benny no dentista, com gás do riso, é hilário.

Um poema por dia - 13/01 - Hollywoodland

13/01

Hollywoodland

É dito ser o panteão.
Olimpo de estrelas imortais.
Indústria de sonhos.
E mentiras.
Nem tão bons, nem tão talentosos,
Nem tão bonitos, nem tão especiais.
Sonhos. E mentiras.
Meus sonhos, minhas mentiras.
Um dia ser um deles.
Um dia estar lá.
Sonhando uma mentira ainda.
Ainda que mentindo um sonho.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Um poema por dia - 12/01 - Remendo

12/01

Remendo

Palavras que não compreendo
Posto aqui, mesmo, sigo lendo
Sem ter visto, ainda vendo
Não ter vivido, por isso entendo
E tendo tido, estive tendo
O que pensava ser, assim sendo
No que se fez, costurar escrevendo

Filmes e Memorabilia 2013 - Mata-me de prazer e Django Livre


 24. Mata-me de prazer – 18/01 – TV
Não me pergunte por que eu parei para ver esse filme B (pra não dizer C). Na tentativa de emular os thrillers eróticos dos anos 80, essa produção gera risos pela performance canastra de Joseph Phiennes e a falta de simpatia despertada pela boba personagem de Heather Graham. É o tipo do filme que se mostra ruim logo com cinco minutos, na primeira sequência na neve. Por favor, mais uma vez, não me pergunte por que eu parei pra ver.

MEMO: Pra não dizer que não falei das flores, as cenas de sexo são intensas.

25. Django Livre – 19/01 - Cinema
É extremamente prazeroso esperar alguns anos e entrar no cinema para assistir ao novo filme de Tarantino. O cineasta só cresce a cada trabalho, mantendo a ousadia e lapidando o seu estilo já consolidado. Desta vez, Quentin nos leva numa narrativa fluida, com uma cronologia mais conservadora que a de seus trabalhos anteriores, e constrói um épico faroeste no sul escravista dos Estados Unidos, sem se preocupar com certas questões históricas (como já havia feito em Bastardos Inglórios) e dando aos negros escravizados com muito prazer, diga-se de passagem - a possibilidade de se vingarem contra os brancos opressores. Resultado: grandes sequências, personagens icônicos, muita violência gráfica (que vira violência crua e perturbadora quando Tarantino quer condenar a escravidão) e ainda um comentário político aqui e ali. Cristoph Waltz rouba todas suas cenas, Jamie Foxx é cool da cabeça aos pés enquanto Leonardo DiCaprio e Samuel L. Jackson visivelmente se divertem.

MEMO: ‘I like the way you die, boy’; o banho de sangue no tiroteio da Casa Grande; Django cavalgando ao som de 'Who did that to you', de John Legend; (ALERTA DE REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO!) Django explode a Casa Grande (!) e vai embora cavalgando com Brunhilde.

Um poema por dia - 11/01 - De pé

11/01

De pé

Fito o escuro. Pulo um muro.
De olhos fechados.
Danço, corro. Canto, corro. Grito, corro.
Olho de novo, peço socorro.
No centro do transtorno
Sem volta, sem retorno.

Vem, lágrima, lavar minha alma
Secar meu peito
Molhar meu choro
Me dizer 'bem feito!'

Vem, lágrima, retomar meu juízo
Me mostrar o futuro
Revelar meu sorriso
Do outro lado do muro

Filmes e Memorabilia 2013 - Kill Bill


 22. Kill Bill Vol.1 – 17/01 - DVD - repetido 
Quentin Tarantino é um artista excepcional e confesso ficar embasbacado com sua estética e com cada carta tirada da manga. Apesar da vaidade (anunciar nos créditos que este é ‘o 4º filme de Quentin Tarantino é por demais egocêntrico, não?), o escritor/diretor inicia a história de vingança da Noiva cuspindo referências e partindo pra porrada sem delongas, mostrando-se um excelente condutor de cenas de ação. Há excessos, mas se não houvesse não seria Tarantino.
É muito bom ver tantas ótimas (e fortes) personagens femininas, a começar pela protagonista de Uma Thurman. Música, referências, pés, Uma Thurman... como Vivica A. Fox diz no making of, é ‘um Tarantino clássico’.

MEMO: Entre os muitos marcos fundados pelo filme como a roupa amarela da Noiva (em referência a Bruce Lee) e a luta contra os 88 Loucos, é simplesmente fantástica a opção de mostrar a origem de O-Ren Ishii através de um anime e inseri-lo no meio do filme.

23. Kill Bill Vol.2 – 17/01 – DVD – repetido
É engraçado que, embora tenha sido um golpe de marketing dos Weinstein, a divisão dos dois ‘volumes’ parece ter dividido o próprio Tarantino. Se em Vol.1 ele privilegiava a ação e as lutas, aqui ele dá sequência à saga da Noiva de forma mais crua e se concentra um pouco mais nos personagens. Pontos pra ele, especialmente pelas presenças de Michael Madsen e Uma Thurman em cena. Sem falar, é claro, do mitológico Pai Mei (Gordon Liu). O ponto baixo fica por conta do terceiro ato, com o encontro entre a Noiva e Bill se alongando além do necessário, embora eu ache interessante a opção pelo anti-clímax no confronto dos dois.

MEMO: A angustiante – e célebre – sequência em que a Noiva é enterrada viva.

Um poema por dia - 10/01 - Dedicado a você

10/01

Dedicado a você

Uma letra pra você: R, de rainha
Uma palavra pra você: linda, toda linda
Um verso pra te dizer, te agradecer
Tudo o que foi feito, e o que vem a fazer

Um poema pra você, mil poemas pra você
Mil letras, mil palavras, mil versos em um ano
Todos pra você, que não te deixem esquecer
De como te amo, como te amo, como te amo.

Um poema por dia - 09/01 - A minha resposta

09/01

A minha resposta

Escrever, escolher.
Pesa.
Pesa, pena, peso pesado.
Assinar, contar, criar
Mentir, forjar
Transmitir, sustentar
A escolha manifesta de escrever
A escolha manifesta em escrever
Em escrever, a escolha manifesta.
A escrita. Há a escolha.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Matéria sobre a leitura de 'Eliseu' na Casa da Gávea

Matéria do site da Casa da Gávea sobre a leitura de 'Eliseu', meu primeiro texto profissional apresentado em público.


“ELISEU”, TRAGÉDIA CONTEMPORÂNEA ESTRÉIA NO CICLO DE LEITURAS NOVA DRAMATURGIA

O jovem autor Lucas Gutierrez começou com um texto ambicioso.Eliseu, uma tragédia, nos moldes gregos, com corifeu e determinismo dos personagens, estreou nesta segunda-feira, 1º de dezembro de 2012, no ciclo de Leituras Dramáticas do Sesc Casa da Gávea. A leitura foi iniciativa da sócia fundadora da Casa, Vera Fajardo, que criou a programação há quase 21 anos e já havia dirigido Lucas como ator no espetáculo Prova de Fogo, em 2009. “Esta leitura cumpre uma das funções do Sesc Casa da Gávea, que é descobrir e incentivar novos dramaturgos”, lembrou Vera.
Lucas Gutierrez e Vera Fajardo
Lucas é jornalista formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e ex-aluno do Centro de Artes de Laranjeiras (CAL), onde conheceu o diretor Almir Telles. “Ele pediu e topei na hora porque tenho a maior disposição para brigar pela nova dramaturgia e por autores que estão começando”, disse Almir, que volta e meia exerce esta função no Sesc Casa da Gávea. Lucas contou que escrever foi uma derivação natural de seu envolvimento com as artes cênicas, que começou como ator: “Quis juntar as duas coisas que mais gosto na vida, escrever e de teatro”.
A trama de Eliseu se passa num tempo impreciso e mistura várias influências. “Por incrível que pareça, a inspiração veio da músicaSamurai, de Djavan, mas bebi tanto nos autores trágicos gregos quanto em Shakespeare”, informou Lucas, que preferiu não atuar desta vez. “Foi uma dica da Vera Fajardo. Ela me disse que era bom ouvir o texto de fora do palco, para perceber melhor que reação traz ao público.”
Na história, o protagonista volta à casa paterna após uma longa ausência e desencadeia conflitos que têm desenlace surpreendente. Tudo com narração do corifeu, vivido por Vera Fajardo. O elenco tem ainda Clara Andrade, Mayara Yamada, Pedro Brandão, Bráulio Giordano, Alfredo del Penho, Arnaldo Marques e Bruno Tasca (lendo as rubricas).
Lucas Gutierrez e o diretor Almir Telles
Acima e nas fotos abaixo, cenas da leitura de Eliseu
Texto e fotos: Beatriz Coelho Silva

Filmes e Memorabilia 2013 - A trilogia Bourne


19. A Identidade Bourne – 15/01 – DVD - repetido
Entretenimento de altíssima qualidade, o primeiro capítulo da franquia ‘Bourne’ inicia uma revolução no cinema de ação americano com uma trama de espionagem tensa, europeia e privilegiando a ação mais realista. Não à toa o trabalho dedicado de Matt Damon convence do início ao fim que Bourne é uma ‘máquina de matar’ com dor na consciência. Muito bem acompanhado pela alemã Franka Potente (como é bom ver uma personagem feminina que não é rotulada como a ‘mocinha engraçada, histérica e indefesa!). Muitos e muitos pontos para a coragem de escalar a própria CIA como ‘vilã’, personificando os antagonistas nos ótimos Cris Cooper e Brian Cox, que também desenvolvem seus personagens o suficiente para dar um drible no maniqueísmo.
Alguns podem me xingar por isso, mas deverei ver os outros ‘Bourne’ em sequência e acredito que, ao chegar ao fim da maratona, poderei afirmar que, na minha opinião, qualquer filme com o espião interpretado por Matt Damon é melhor do qualquer 007.

MEMO: Outro filme com sequência espetaculares (a fuga do banco na Suíça; a perseguição de carros em Paris; o duelo Matt Damon x Clive Owen), mas deixando-as de lado, destaco o monólogo em que Jason Bourne explica a Marie como sua mente treinada e condicionada funciona, apesar da amnésia.

20. A Supremacia Bourne – 16/01 – DVD - repetido 
Seguindo a boa franquia iniciada por Doug Liman, Paul Greengrass assume a direção e pisa no acelerador (num estilo que, às vezes, exagera nos cortes). O entretenimento segue em alto nível com boa trama e bons personagens. A série ganha uma ótima adição com a entrada de Joan Allen (mais uma boa personagem feminina que foge dos estereótipos) e no mais, tudo fica maior e mais rápido. Destaques para o ritmo do início do filme e a coragem de manter o foco antagônico em determinadas chefias da CIA (apesar de aqui, os velhos russos terem um papel crucial na trama). Matt Damon também merece aplausos mais uma vez por, mesmo num blockbuster hollywoodiano,  aprofundar a persona de seu personagem, construindo um sujeito frio, calculista, extremamente perigoso, mas humano, e arrependido de seus atos.

MEMO: A perseguição de carros em Moscou.

21. O Ultimato Bourne – 16/01 – DVD – repetido
Para concluir a trilogia inicial da franquia (que seguiu sem Bourne), mais capítulo pilotado a toda velocidade por Paul Greengrass. Entretanto, por mais que seja o último filme e conclua muito bem o arco de Jason Bourne com boas participações de David Strathain e Albert Finney, visto em sequência dos outros dois, bate um ponto em que ‘Ultimato’ cansa um pouco por, aparentemente, trazer menos novidades, deixando escancarada a fórmula da série e, por isso, tornando o filme algumas vezes previsível por conta da repetição da mesma equação – cena de escritório + Bourne a caminho de algum lugar + CIA localiza Bourne + cena de ação com Bourne dando porrada em meia dúzia e conseguindo fugir usando inteligência e força.

MEMO: A sequência na Waterloo Station merece lembrança, assim como a perseguição de carros em Nova York. Mas memorável mesmo é a perseguição/luta em Tânger, em especial o take em que Bourne salta de um terraço para uma janela, filmado quase em primeira pessoa.

Um poema por dia - 08/01 - Aqui

08/01

Aqui

       Eis-me aqui
Sentado diante de ti
     Sozinho, sem ter pr'onde ir
           O remédio é partir
                 Partir pra seguir
           Partir para sentir
     Partir para sorrir
A ponto de cair.
       Eis-me aqui!

Filmes e Memorabilia 2013 - Além das Montanhas, Exterminador do Futuro 2 e Duro de Matar


16. Além das Montanhas – 12/01 - Cinema

É um filme que precisa ser digerido. A caracterização da vida no convento das montanhas é tão perfeita que por vezes esquecemos que não é um filme de época, o que só faz aumentar o choque quando vemos aquelas pessoas em contato com o mundo de fora do convento. O medievalismo daquele modo de vida pode ser encarado como uma crítica direta à Igreja, mas também como uma analogia ao estado totalitário que por anos dominou a Romênia.
Porém, apesar de considerar boa a construção da narrativa, fiquei com a impressão de que Cristian Mungiu se alonga demais, o que compromete um pouco o ritmo da história como um todo.

MEMO: O belo plano inicial, com Voichina caminhando na direção oposta a todas as outras pessoas que desembarcam, até encontrar Alina; (ALERTA DE REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO!) a reação da médica ao constatar, diante das freiras, que Alina está morta.

17. O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final – 13/01 – DVD - repetido

A produção Sci-fi de James Cameron é uma pipoca saborosa. É um filme muito bélico, há furos no roteiro, mas no geral, o efeito Schwarzenegger é capaz de salvar o dia: tanto o filme como o grandalhão inexpressivo - e por isso mesmo perfeito como robô - são puro carisma.
MEMO: Durante a invasão da Cyberdyne, o exterminador enfrenta a polícia armado até os dentes e não faz uma vítima fatal sequer.

18. Duro de Matar – 14/01 – DVD – repetido

Que peça de entretenimento! A fita de ação com Bruce Willis é deliciosa e explora ao máximo o carisma do astro, aqui interpretando John McClane pela primeira vez. Os vilões estrangeiros são o típico clichê do cinema americano, mas Alan Rickman defende as cores de seu time com muita dignidade, e o jogo de gato e rato no alto do Nakatomi Plaza é capaz de fazer a gente esquecer as questões político-culturais por uma noite. Um filme redondinho que ainda diverte mais de 20 anos depois de ter sido feito.

MEMO: Dentre as várias sequências de ação antológicas (McClane saltando do terraço explodindo; fugindo pelo poço do elevador...), destaque para a encarada final entre Hans e McClane.

Um poema por dia - 07/01 - Benção

07/01

Benção

Eu vi os templos da História
Girando sob o céu de estrelas;
As famílias das florestas,
Os crentes ancestrais;

Eu vi a face da loucura,
É um homem meio máquina,
Dentes podres e olhar vazio;

Eu vi homens que viram frango,
Ossos que viram armas,
Crânios em pilha,
Cadeias vazias;

Eu vi um mar de nuvens
E os poros da Terra;
Eram montanhas, cascatas, vulcão;
Eu vi meninos prontos pra guerra
Cidades lotadas de solidão;

Há vida na selva, na praia, tradição, permanente
Os homens, crianças, unidos, cantavam;
Há vida no centro, berço, oriente
Um olhar, pensamento, 
Além do tempo.

E os deuses dançavam. 

Um poema por dia - 06/01 - O Baile

06/01

O Baile

Olhos. Olhos.
Iluminados na pista, mudam de cor.
Mãos soltas, jogadas na cintura,
Cabelos no rosto, imagem do amor.

Pés, pernas.
Pernas nas pernas.
Pernas com pernas, vestidas, descobertas,
Em vestidos curtos, incansáveis pernas.

A pista, o som, a luz, o som.
Os dois, o dom. Nos lábios, batom.

Boca na boca, lábios nos lábios.
Um beijo molhado. Molhados.
De olhos fechados. Fechados.

Olhos, luz, mãos, braços, seios, cabelos,
Rosto, lábios, molhados, pés, pernas,
Pernas, cintura, boca, bocas, bocas,
Som, som, som. Luz. Olhos. Molhados.

Filmes e Memorabilia 2013 - Trapaceiros, Jackie Brown, Minority Report e Paris-Manhattan


12. Trapaceiros – 09/01 – DVD - repetido

Não é o melhor dele (na verdade, pra mim esta época foi a sua pior), mas Woody Allen é Woody Allen. A comédia é inventiva, porém rasa. A premissa é ótima, mas não me parece desenvolvida o suficiente. Bom mesmo é ver Woody variar um pouco seu papel, saindo do tipo neurótico de sempre pra encarnar um ladrão ralé sem cultura e meio grosseirão.

MEMO: Ray Wrinkler (Allen) e seu bando furam uma parede e inundam o porão.



13. Jackie Brown – 09/01 – DVD - repetido
Desenvolvendo o estilo em seu terceiro filme como diretor, Quentin Tarantino adapta a obra de Elmore Leonard e conduz com elegância essa história policial com cara de um quase filme de golpe, que consegue escapar de convenções e clichês com boa música e personagens desenvolvidos.
Pam Grier É Jackie Brown, mas não leva o filme só. Tem a adorável companhia do cavalheiro-ladrão-de-cenas Robert Forster e ainda de Samuel L. Jackson e Robert De Niro. Bons personagens, boa trama, bom filme. Porém, há de se admitir, é o mais fraco de Tarantino.

MEMO: De uniforme, azul e branco, a aeromoça Jackie desembarca em LA.

14. Minority Report – 11/01 – DVD – repetido

Um bom filme de ficção científica que me dá a impressão de que poderia ser mais na mão de um diretor menos sentimentalista. Fotografia espetacular, ação de qualidade, boas atuações de Tom Cruise, Colin Farrell e, especialmente, Samantha Morton, que ilumina o filme a cada cena sua. Empolgante na primeira parte, ‘Minority’ sente a mão pesada de Spielberg na segunda parte, mas ainda assim é um bom filme.

MEMO: John Anderton fugindo de seus ex-comandados; as aranhas caçando Anderton numa espécie de favela.



15. Paris-Manhattan – 12/01 - Cinema
 
Arremedo de filme que parte da paixão de uma mulher solteira pelos filmes de Woody Allen para “desenvolver” as situações ao seu redor. Linda de morrer, Alice Taglioni não convence como o tipo tão cheio de dificuldades para se relacionar. Os personagens são rasos, mal construídos, mal desenvolvidos e mal resolvidos! O texto é sofrível. Patrick Bruel tenta injetar carisma, mas nem o próprio Woody Allen salva o filme.

MEMO: Woody Allen em pessoa faz uma rara aparição em um filme que não os seus.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um poema por dia - 05/01 - Sonhei que voava

05/01

Sonhei que voava

Sonho ou terra?
Vida ou sonho?
Desperto no meu caminho
De pé, caminhando sozinho,
Sonhando em linhas mal traçadas
Mal faladas, mal lembradas.

Vida ou terra?
Sonho e sonho.

Minha morte, minha sorte
Minha mente, minha gente
Sonho meu, faz o teu
Herói, regente
Sonha e voa para o céu,
Presente.

Filmes e Memorabilia 2013 - Detona Ralph, A Ponte, Baraka e Grey Gardens


8. Detona Ralph – 05/01 - Cinema

Bom desenho do selo Disney com personagens carismáticos e roteiro amarradinho. Tanto personagens principais como os bons coadjuvantes são bem desenvolvidos e tem seus momentos e sua importância numa história esperta e extremamente simpática.

MEMO: A reunião dos vilões para terapia; (ALERTA DE REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO!) lançado no ar, Ralph diz as palavras de apoio dos vilões enquanto mergulha para a ‘morte’ numa pilha de mentos e dietcola.

9. A Ponte – 05/01 – DVD – repetido

Definitivamente um filme perturbador em seu estudo sobre os suicídios da ponte Golden Gate. Angustiante, melancólico e muito sombrio.

MEMO: A história de Kevin Hines, que saltou da ponte, se arrependeu no meio do caminho e viveu pra contar a história; (ALERTA DE REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO!) o take final em que Gene sobe no parapeito e se joga, de costas, para a morte.

10. Baraka – 07/01 - DVD
Um espetáculo visual, um registro da Humanidade na Terra, para ser colocado numa cápsula do tempo e lançada ao infinito. Imagens fantásticas de natureza, homem, homem-selvagem, homem-moderno, homem-máquina... Um retrato lúdico e poético da vida do homem no planeta.


MEMO: Entre muitas imagens memoráveis, vale destacar a sequência que torna visível a rotação da Terra através dos registros de um sítio arqueológico acelerados, com as passagens de sol, céu e lua.

11. Grey Gardens – 07/01 - DVD

Com personagens tão fantásticas, os Irmãos Maysles mais uma vez conseguem desaparecer, mergulhando o espectador naquele cotidiano surreal ao ponto que fica difícil não imaginar que tudo é tão pitoresco que parece encenação e não realidade, por mais que a lente da câmera mude o comportamento do retratado por si só. Curiosamente, a produção do documentário virou filme de ficção com Drew Barrymore e Jessica Lange, e até mesmo musical (inclusive com uma versão brasileira que deverá estrear em 2013). É um retrato fantástico, apesar de se alongar um pouco além da conta, repetindo-se no registro.

MEMO: A dança patríótica de Little Edie e a constatação, através de velhas fotos, de que mãe e, especialmente, filha, já foram lindas de morrer.

Um poema por dia - 04/01 - Caminho

04/01

Caminho

Há um vento a me empurrar
Adelante, adelante
Sedento por me segurar
Adelante, adelante

Tem a força para me esmagar
Adelante, adelante
Faz questão de me apequenar
Adelante, adelante

Diz-me 'não, melhor esquecer'
Adelante, adelante
Mostra tudo que eu não posso ser
Adelante, adelante

Tenta-me o vento
Adelante? Adelante?
Traz meu momento
Adelante, andante, adiante.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Filmes e Memorabilia - 'O Equilibrista', 'O Crime do Padre Amaro' e 'Fitzcarraldo'


5. O Equilibrista – 03/01 – DVD

Um retrato arrebatador do artista francês Phillipe Petit, que nos anos 70 atravessou o WTC de uma torre à outra, caminhando num cabo de aço. A figura anárquica e poética de Phillipe é irresistível e mesmo com um final conhecido desde o começo do filme, o diretor James Marsh consegue manter a tensão até o clímax do doc.
Faltou saber um pouco mais sobre o trabalho de Petit em si, como financiava seus projetos, o que se passava na sua cabeça no momento da travessia e, especialmente, tendo uma relação tão forte com as torres, o que sentiu quando elas vieram abaixo nos atentados de 2001.

MEMO: A sublime sequência em que Phillipe faz a travessia (contada especialmente por fotos), editada ao som de Erik Sotie; saber que o equilibrista ficou 45 minutos suspenso nas alturas sem qualquer cabo de segurança, entre os dois prédios, tendo atravessado a distância de 60m oito vezes.

6. O crime do Padre Amaro – 04/01 – DVD - repetido

O filme ganha pontos pelas críticas à Igreja e a interpretação contida e cheia de nuances composta por Gael García Bernal, mas se equivoca ao enfocar tramas paralelas e oferecer uma narrativa corrida em vez de se aprofundar no ótimo personagem principal e sua relação com Amelia.

MEMO: (ALERTA DE REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO!) A cena em que Amaro sugere que Amelia fique longe e dê o bebê para adoção. Ela recusa, ameaça ter o bebê na cidade e revelar a verdade. Num rompante de raiva, ele a agride para em seguida chorar e lhe pedir perdão.

7. Fitzcarraldo – 05/01 – DVD

Há de ser louvada a odisseia filmada por Werner Herzog na Floresta Amazônica. Puro espetáculo visual, o épico exibe imagens inacreditáveis ao abordar a megalomania do homem e sua pequeneza diante da natureza. José Lewgoy e Grande Otelo e, especialmente, Klaus Kinski são forças da natureza.

MEMO: Fitz tocando Enrico Caruso em cima do barco para combater os ruídos dos índios escondidos na floresta; ao som de Caruso, o barco sobe montanha acima; a ópera no navio, na sequência final.

Um poema por dia - 03/01 - O outro lado

03/01
O outro lado

Fora de ordem, estou fora
Da linha, estou fora
Do ninho, fora
fora

Out of line, out of time
Fora de mim
Out of sight, out of mind
Fora, out

Fique fora, fora daqui
Keep out, stay away
Keep fora, fique out
Out, por fora
Por out fora, por fora, out
Por forout

Porque fôra.

Um poema por dia - 02/01 - Faces

02/01

Faces

Faces, faces, que fazes, que fazem?
São como fases as faces,
Fases da rua, faces na rua
Nenhuma minha, todas suas.

Faces na tela, na calçada,
de passagem em movimento.

Faces a caminho da minha direção
Ou na direção do meu caminho.

Faces que me encaram
Faces que me olham
Faces, teu, do mundo
Faces, fases, me devoram.

Um poema por dia - 01/01 - Ano novo

Seguindo o lema do filme coreano 'Hahaha', que eu peguei pra mim, coloquei como meta escrever um poema por dia. Até hoje, 28 de janeiro, estou conseguindo. Mas como o blog só saiu agora, vou tirando o atraso...

01/01

Ano Novo

Atravessar é o que liga
O anel que nos une
Dia após dia, lua após lua
Num novo começo, de velhas intrigas
Na nova esperança de fazer a travessia

Vai cedo, vai tarde
Mas vem, sem alarde
O que já foi, não será
Será o que é? Não.
Será o que tiver que ser.

Filmes e Memorabilia - 'Hahaha', 'Take this waltz', 'Holy Motors' e 'O abrigo'

Lista de filmes do ano (passando a limpo porque comecei as anotações no início de 2013 mas o blog só saiu agora...):


1. Hahaha – 02/01 – Cinema

O filme tem uma proposta interessante com o encontro de dois amigos retratado por quadros parados da conversa enquanto as narrativas dos dois em suas viagens são contadas em flashback, sem os dois se tocarem em momento algum que cruzaram o caminho das mesmas pessoas e, por pouco, não deram de cara um com o outro. No entanto, nesse clima de conversa de bar, as histórias emulam uma simplicidade de acontecimentos que, pra mim, não gerou grande interesse. 

MEMO: Memorável e a fala que um dos protagonistas ouve de um herói histórico da cidade durante um sonho: ‘Escreva um poema por dia’. Peguei pra mim.

2. Entre o amor e a paixão (Péssimo título em português para ‘Take this waltz’) – 02/01 – Cinema

Atriz em crescimento exponencial, Michelle Williams merece aplausos. Não só pela atuação neste filme, mas pela carreira que vem traçando, ora com trabalhos de qualidade em produções maiores (o vindouro ‘Oz: Mágico e Poderoso’, ‘Sete dias com Marilyn’); ora trabalhando com grandes diretores (‘Brokeback Mountain’, de Ang Lee; ‘Ilha do Medo’, de Scorsese; ‘Sinédoque, Nova York’, a estreia de Charlie Kaufman na direção); ora estrelando produções independentes (‘Namorados para Sempre’; ‘Não estou lá’) caso desse segundo filme dirigido pela também atriz canadense Sarah Polley.
Amargo, indie e fofo, ‘Take this waltz’ aparentemente traz uma visão menos romântica do casamento, mas seu principal objetivo é discorrer sobre a insatisfação, sobre o medo do ‘In Between’ que apavora Margot (e talvez muitos outras mulheres e homens do mundo moderno de forma geral).
Um drama humano com uma pegada realista, mas ainda assim com um colorido todo especial e algumas cenas memoráveis. E é sempre bom encontrar Seth Rogen.

MEMO: Daniel (Luke Kirby) diz a Margot (Michelle) o que faria com ela na cama; a cena do passeio no brinquedo ao som de ‘Video killed the radio star’; a fala de Gerry, personagem de Sarah Silverman: ‘A vida tem uma lacuna. Deixe de tentar preenchê-la como uma maluca’; e especialmente (ALERTA DE REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO!) a cena com a música de Leonard Cohen que dá nome ao filme, acompanhando com um giro contínuo de 360º ao redor da sala de Daniel os momentos do novo casal com direito a beijo, muito sexo, experiências sexuais, carinho e terminando com os dois em silêncio na frente da TV.

3. Holy Motors – Cinema – 02/01

Um filme como eu, pessoalmente, nunca tinha visto. Um misto absolutamente fantástico de surrealismo com poesia, ousadia, sonho, crítica, metalinguagem e, talvez acima de tudo, cinema. Perde um pouco do ritmo com a proximidade do fim, mas trata-se de uma experiência única.
É provocador e poético e Denis Lavant é simplesmente um animal. Um sujeito de meio metro de altura dando uma aula de atuação com pleno domínio de voz, corpo, caracterização e capaz de literalmente se transformar em um empresário, uma velha mendiga, um herói de filmes de ação, um assassino, um pai de família, um velho à beira da morte...

MEMO: Entre grandes momentos, toda a sequência do Senhor Merd; toda a sequência das coreografias de Motion Capture; os dois momentos musicais (o dos acordeons na igreja e a cena cantada com Kylie Minogue); a surreal sequência inicial, que parece saída de um sonho, em que o próprio diretor Leos Carax acorda em um quarto de hotel, desvenda o papel de parede em forma de floresta e acaba chegando ao cinema, que passa a refletir o próprio cinema.


4. O Abrigo – 02/01 - DVD

Honestamente, esperava mais. Michael Shannon é fera e a história de paranoia pode até evocar o comportamento da sociedade americana pós-11 de setembro, mas a tensão não chegou do lado de cá. A construção da narrativa através da piora no estado de Curtis (Shannon) pode ser ela mesma um retrato da experiência do espectador, que acompanha a história sem saber se o homem é um esquizofrênico ou se de fato está prevendo uma apocalipse por vir. Esse paralelo é bacana. Mas a expectativa não se concretiza a contento e por vezes o próximo passo do roteiro é previsível.

MEMO: (ALERTA DE REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO!) Curtis e Samantha (Jessica Chastain) contemplam a tempestade vindo e a visão de Curtis se tornando real.