Encruzilhada

Encruzilhada

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A escolha de Sofia, um conto de Lucas Gutierrez

A escolha de Sofia

Um conto de Lucas Gutierrez





Tinha passado a noite de sua vida com aquele homem.

            Sofia não queria estar aqui hoje. Nenhum problema com o aqui, mas com o hoje. Ou melhor, o maior problema era de fato a combinação aqui-hoje. Poderia estar aqui em algum outro dia, alguma outra época de sua vida. Mas não hoje. Não que tivesse algo especial pra acontecer hoje. É justamente isso, não tinha. O mais próximo do especial que tinha era o aniversário de 82 anos de sua avó. Sofia foi uma das primeiras a chegar. Abraçou a avó carinhosamente e logo depois apanhou um bombom no móvel de entrada. Os tios e primos que iam chegando lhe perguntavam sobre a viagem. Sofia respondia com qualquer afirmação protocolar, sem dar corda para o desenvolvimento de uma conversa mais longa. Incomodava-se com o fato de a viagem ainda habitar seus pensamentos. Mal havia chegado de férias e não conseguia de fato voltar para sua vida de sempre. Escapando pelo corredor, Sofia caminhou até a janela do quarto da avó, com vista para o céu, brilhante numa noite estrelada de maio. Abriu o bombom envolto em papel vermelho e mordiscou um primeiro pedaço.
Na última noite de Sofia naquela viagem, acontecia um tipo de festa na praia, um luau ao pôr do sol. Lá estava um monte de gente que ela nunca tinha visto antes. Era uma das coisas mais espetaculares que já tinha testemunhado, algo que ela sabia não ter vivido em vinte e tantos anos. Naquele momento, ao entardecer à beira-mar, Sofia teve a impressão de um mundo gigante; vislumbrou por um segundo possibilidades incontáveis; e sentiu-se como a única se dando conta de tudo isso naquele instante, em todo o planeta. Era capaz de quase tocar um dos significados da vida ao realizar com toda a fé e esperança do seu coração que tudo parecia simples. Naquele fim de tarde, estava com o vestido novo, comprado num mercadinho da cidade. Era de linho, solto no corpo, cor azul, e as alças finas deixavam escapar nos ombros os laços da parte de cima do biquíni branco que ela usava por baixo da roupa.
Sofia viajava muito, fosse pelo trabalho, fosse de férias. Era a coisa que mais amava no mundo. E muitas vezes ele não podia acompanhá-la. Tinha o trabalho, alguns estudos adicionais ainda por terminar. Não tinham problema com isso, ele a tinha conhecido assim. Ela viajava, ele ficava. Às vezes sentia-se quase aliviada, pois adorava aproveitar sozinha ou ao lado das amigas, conhecidas entre tantas viagens, espalhadas Brasil e mundo afora. Ao fim da viagem, Sofia retornava renovada para os braços dele. Não foi o que aconteceu desta vez. No fundo, a coisa parecia maior. Talvez Sofia estivesse feliz com sua vida de sempre. Quando estava vivendo a sua vida de sempre. Porque quando viajava, tornava-se outra pessoa. Queria o mundo, conhecer e conversar com o máximo de pessoas possível. Ouvir todas as histórias, falar com todo mundo. Não parava um segundo. E as pessoas simplesmente vinham falar com ela. Porque além de bonita e atraente, parecia transpirar, exalar essa vontade, esse brilho de querer descobrir, ouvir, falar, conhecer.
Foi o caso daquele inglês engraçado que ela encontrou quando foi mergulhar. Já era noite na praia. Simon, um tipo jovem, branquelo, ruivo, barbudo e magricela perguntou o nome dela e de onde ela era. Em seguida, perguntou se queria beber alguma coisa. Não se tratava de uma cantada, o simpático sujeito de fato cuidava do bar da praia, logo ali adiante. Um quiosque de palha e pau a pique com um balcão de madeira. Vazio, uma vez que todo mundo estava na fogueira, lá pro meio da praia. Saíram do mar e o inglês lhe preparou uma caipirinha. Nunca tinha vindo ao Brasil, mas sabia fazer caipirinhas. Sabia um monte de coisa do Brasil: tinha ouvido falar do Rio de Janeiro, de Fernando de Noronha, e até mesmo de Ilha Grande. Sabia mais do Brasil do que ela da Inglaterra. Sofia conversava com Simon quando apareceu no bar um grupo de cinco pessoas - dois homens e três garotas. O inglês a deixou por um instante e foi atender o grupo.
Na janela do quarto de sua avó, Sofia mordiscava o bombom de chocolate enquanto pensava nele. Chegaria a qualquer momento. Tinham se encontrado apenas na noite em que ela voltara, dois dias atrás, quando ele foi buscá-la no aeroporto. Ela esperava conseguir se comportar normalmente quando voltasse. Mas nada parecia normal desde que ela havia chegado, especialmente ao se reencontrarem. Durante o jantar, durante o sexo, durante o resto da noite e o dia seguinte, a cabeça de Sofia não estava ao lado dele e não parava de funcionar. Não tinha dúvidas do que queria. De tudo que poderia ter, só queria tempo. Parado. Não pra ela mesma, mas pra ele. Para que ficasse parado, esperando por ela. “E quem espera”, pensou. Lembrou-se de quando seu ex-namorado lhe pedira em casamento. Como poderia ser esposa tão nova? Lembrou-se de como se sentiu aliviada com o pedido, mesmo resoluta em recusar. Lembrou-se de toda sua história com ele. Do início. Com ele é diferente. Queria... quer ser mulher dele. Mas a mulher dele não seria ela. Não ela, hoje, aqui. Hoje e aqui. Ela o amava. Mas quem disse que tem a ver com amor?
            Sofia tomava seu drink e observava Simon na outra mesa quando notou um homem olhando pra ela. Seu olhar cruzou com o dele. Ele estava neste grupo que tinha acabado de chegar, com outro rapaz e três meninas. Não saberia explicar, e mal saberia descrever o que lhe aconteceu naquele instante. Mas quando trocou olhar com aquele homem, sentiu uma coisa percorrendo seu corpo. Sorriu. E não pôde parar de olhar. Tentou disfarçar; não conseguiu. Ficou com vergonha, queria se esconder, queria ir embora. Queria ir até a mesa dele.
Viajando por aí, Sofia conversava com todo mundo; sempre a mais agitada, a mais animada. Acompanhada de uma amiga ou mesmo sozinha, como em muitas de suas viagens, era cortejada por muitos homens. Poderia ter cortado todos eles em começo de conversa. Ainda que não, porém quase inconscientemente, muitos, ela incentivou. Provavelmente numa espécie de libertação moralmente mais aceitável para alguém que não enchia uma mão com os homens com quem tinha se relacionado. Sofia começou a namorar cedo, acabou quase emendando um relacionamento no outro. Talvez fosse apenas um afago no ego, uma prova para descobrir a extensão do seu poder de sedução. Talvez fosse apenas um jogo inocente. Qualquer que fosse a razão, fazia-os se aproximar e se interessar entre sorrisos e uma mão sedutora invariavelmente lançada ao cabelo dourado, luminoso. No entanto, Sofia sempre manteve em rédeas curtas o comando absoluto sobre as consequências de seu charme e nunca deixou que passassem de um mínimo flerte; sabia até onde podia ir. Mas com aquele homem, nada havia sido planejado, nem no mais profundo nível de sua consciência. Era como se não conseguisse controlar. Ele a olhava fixamente do outro lado do bar, ignorando a conversa dos outros. Simon voltou, perguntou da bebida. Sofia respondeu qualquer coisa. Mal podia desviar o olhar da mesa em frente. Empenhou-se na tarefa. Estava incomodada e intrigada com a falta de domínio de si e o calor que circulava por seu corpo. Puxou um papo com Simon; mudou a cadeira de lugar, de modo que pudesse desviar o olhar direto da mesa da frente.        
            Sofia comia o bombom meticulosamente. Primeiro, mordia a parte lateral completa. Em seguida, apanhava com a boca a parte superior. Restava agora a base de chocolate e o recheio de avelã. Da janela, podia ouvir as vozes da família, reunida na sala em torno dos anos da avó. Costumava sentir-se bem nesses encontros. Mas não hoje. Nesta noite, estava angustiada. Enquanto lambia os dedos, apoiando na palma da mão o que restava do bombom, reviveu a sensação da semana anterior, da viagem. E pensou em todos os dias em que gostaria de ter acordado na cama de outros homens. Ou não necessariamente na cama de ninguém; todas as noites em que gostaria de sequer ter dormido. E todos os dias em que gostaria de estar em outro lugar, respirando outro ar. Sendo outra que não esta.
            Mesmo sentada em outro lugar, e com Simon à sua frente, Sofia não pôde deixar de ver quando o rapaz saiu da mesa e veio até o bar. Em inglês de estrangeiro e sem desviar o olhar para Sofia, perguntou a Simon se havia algum lugar para lavar as mãos. Simon apontou uma direção, nos fundos do bar. Por um breve momento, Sofia se viu encarcerada em seus próprios pensamentos imaginando quem seria aquele homem. Seu nome, de onde vinha, o que fazia, por que escolhera aquela praia naquela época do ano. Em seguida, Simon lhe deixou sozinha e voltou-se para o bar. Ela esperou alguns segundos, disfarçou e se levantou da cadeira. Caminhou na mesma direção indicada por Simon. Chegou aos fundos do bar, uma parede ladrilhada de amarelo com uma pia do lado de fora e uma porta para o lavabo. Ali estava ele, lavando as mãos. Quando já as enxugava, percebeu a presença de Sofia, impávida, à sua frente. Olhares se cruzaram novamente, agora próximos, sem obstáculos, disfarces ou distrações. Ele chegou mais perto. Possuída por alguma energia que nunca havia sentido antes e agora tomava conta de seu corpo, despindo-a completamente de pensamentos, ela correspondeu. Num passo, num véu de delicadeza, fizeram da distância, nenhuma; olhos nos olhos, fechados; lábios nos lábios; e a boca, uma. Num beijo, isolados, num minuto esgarçado, sozinhos no mundo.
            Terminaram o beijo e voltaram ao planeta Terra. Sem palavras, ela baixou os olhos, desconcertada. Mordia um lábio e parecia não acreditar no que tinha acontecido. Queria se esconder, fugir, gritar, sair correndo. Permaneceu ali, de pé, apoiada nas sandálias desgastadas de tantas viagens. Colocou uma mecha da franja pra trás da orelha. “Eu te vi” disse ele, gentil, num inglês de turista. “Eu sei, eu também te vi” respondeu ela, na mesma moeda. Coração quase saltando pela boca, ainda ruborizada e surpresa pela própria coragem, não sabia o que dizer. Mil pensamentos lhe ocorreram à mente; a imagem do namorado, o mais presente e preocupante deles. Estava com a estranha sensação de viver um sonho, meio pesadelo, sem acreditar ou se sentir no controle de suas ações. “Meu nome é Ignacio” disse ele, ainda em inglês universal. “De onde você é?” ela perguntou, quase sem querer. “Espanha”, respondeu ele. “Sofia. Brasileira” ela completou, em português. Ignacio sorriu. E a convidou para se sentar junto de seus amigos. Ela foi.
            Sofia mordia a avelã quando sua tia se aproximou.
- Ainda está no fuso horário do outro lado do mundo? - perguntou.
- Mais ou menos, demora pra gente se acostumar – Sofia respondeu.
- Como foi de viagem?
            - Muito bem. Tudo lá é lindo.
            - Sua mãe me disse que você foi sozinha.
            - Fui.
            - E não é muito solitário?
            - É ótimo. Eu recomendo muito. Você conhece mais gente e aproveita de uma maneira completamente diferente do que quando vai acompanhada.
            - Deus me livre! Ficar rodando por aí sozinha, sem ter com quem compartilhar, com quem dividir as descobertas ou as dúvidas ou os problemas da viagem. Já passei dessa fase...
            - É uma experiência especial, tia. Experimente um dia. 
            Quase saindo, ela ainda brincou:
- E o ‘noivo’, onde ele está?
Sofia terminou de comer o bombom, amassou o papel vermelho e olhou no relógio para então responder:
            - Ele deve estar chegando.
Uma hora depois do encontro no bar, Sofia estava com Simon e os amigos de Ignacio no luau da praia, com mais um bando de jovens turistas da vila. Ele era médico, em período de residência na sua Espanha natal, de férias por ali. Ela falou de sua vida, de suas viagens, de seu trabalho; mas não mencionou o namorado no Brasil. Ele não perguntou. E ainda que sem forçar nenhum contato, tentou se aproximar dela algumas vezes. Na mais direta, ela se esquivou e disse que ia dar um mergulho. Tirou o vestido azul, e foi para mais um banho noturno.
Ele caminhou atrás dela, e a ficou esperando sair do mar, negro como a noite, que àquela hora parecia unido ao céu, formando uma coisa só. Sofia mergulhou nas águas calmas da baía; deitou-se para boiar, mirando o céu encravado de estrelas. Ficou ali por vários segundos, talvez alguns minutos. Na areia, Ignacio se sentou. Segurava o vestido de linho dela enquanto a observava deitar entre as águas, como se estivesse numa piscina, numa tarde de sol. Maravilhou-se quando Sofia saiu do mar, biquíni branco, cabelo molhado, jogado pra trás. Era uma menina quem estava boiando no mar de breu daquela noite. Era uma mulher quem saía da água, passo firme sobre a areia, na direção dele. Estava plena, inteira, viva. Ignacio devolveu-lhe o vestido entregando junto um ‘linda’ meio em espanhol, meio em português. Ela sorriu, colocou o vestido e o puxou pela mão de volta para o luau. Era a primeira vez que se tocavam desde o beijo. Ela apanhou um drink e disse alguma coisa para Simon; sorriu e brindou com os amigos de Ignacio. E então se voltou pra ele; só pra ele. Começaram a dançar. Ela, de corpo molhado, com o biquíni úmido deixando sua forma marcada no vestido de linho azul. Ele se aproximou, envolvendo-a com um de seus braços pela cintura. Pôs os lábios no ouvido dela e desceu para o pescoço. Ela fechou os olhos e jogou a cabeça levemente pra trás. Ele a beijou no pescoço e subiu, deslizando lentamente a boca pelo rosto dela até vencê-la com um beijo. Sofia correspondeu, beijando-o como na primeira vez, nos fundos do bar.
Sofia saiu do quarto e foi para a cozinha. Bebeu um copo de água; jogou o papel vermelho do bombom no lixo; lavou as mãos. Viu-se diante da porta de serviço. Ao virar a chave, foi interpelada pela mãe. “Aonde você vai?” a mãe perguntou. “Vou pegar um ar e já volto” ela respondeu, antes de abrir a porta e sair, saia agitada, partindo em direção às escadas, ao portão do prédio e à praia, alguns quarteirões distantes dali.
            Beijaram-se a noite inteira. Conectaram-se, estavam combinados. Mal se falavam. Trocaram carinhos dançando; sentaram na areia e continuaram a se beijar. De pé novamente, permaneciam agarrados, incansáveis, inseparáveis. Ela olhava fundo nos olhos dele e não via nada. Nada de futuro, nada de passado. Enxergava apenas o presente. Um presente de momento que ela sentia lhe arranhando levemente o rosto com a barba baixa enquanto notava as mãos dele investirem sobre seu corpo; uma apoiada na cintura, sentindo que embaixo do vestido estava o tecido do biquíni, segurando junto com o braço a tensão entre os corpos e de vez em quando dando um aperto de tesão naquela mesma cintura; a outra com dedos macios lhe acariciando os braços, deslizando pelo ombro até apanhá-la pelo pescoço para, em seguida, subirem atrás de um refúgio por entre os vastos fios dourados. Ao fim do luau, em alta madrugada, Ignacio se separou dos amigos para levá-la ao hotel. Agarram-se à porta do quarto por alguns minutos. Entraram.
            Sofia fechou as cortinas, mas manteve a janela aberta e as luzes apagadas, criando um tom quase azulado pela luz da lua que invadia o quarto àquela hora da noite. Beijaram-se de pé até que ele a deitou na cama. Lenta e delicadamente, usando nada mais do que as pontas dos dedos das mãos, Ignacio levantou o vestido por completo. Deixou-a despida, apenas de biquíni branco, deitada sobre os lençóis, olhos fechados, braços jogados pra cima. Tirou a camisa e colocou-se por cima dela, pele com pele, num calor ansioso. Passeou com seus lábios pela pele de Sofia e desamarrou com precisão e carinho a parte de cima do biquíni, deixando-a com o torso nu. Apanhou-a mais uma vez pela cintura e, sentado, encaixou-a sobre seu colo, pondo os lábios sobre seus seios, tocando-lhe a pele com a ponta da língua úmida. Beijou-a mais uma vez na boca, longa e calorosamente. Deitou-a novamente e usando as duas mãos, puxou devagar a parte de baixo do biquíni branco, deixando Sofia completamente nua sobre a cama, linda, livre, abandonada e iluminada pelo pouco de luz que restava na madrugada. Ignacio despiu-se por completo e se jogou aos pés dela, à beira da cama, subindo com a boca por suas pernas. Pôs-se então a beijá-la profundamente. Um beijo molhado, faminto, que fazia Sofia gemer baixo, de olhos fechados. Ela sentia a língua e os lábios de Ignacio combinados entre si para conquistá-la por completo. Gozou ao fim de alguns minutos. E logo estavam agarrados, ele por dentro dela, duro, quente e forte. Vez por outra seus olhos se cruzavam com os dela, castanhos, escuros, rendidos. E ele a beijava. Trocaram posições, trançados; pernas enlaçadas, braços soltos, leves, mãos no comando, a paixão em movimento entre seios, pelos, peles; suados, os corpos seguiram, molhados, ardentes, ligados, entre lábios mordidos e dentes trincados, entre sons, gemidos, e olhares fixados; seguiram com força, juntos, até o fim.
            Àquela hora da noite, as ruas de Copacabana já se aquietavam. Sofia caminhou apressada, como quem sobe, sem fôlego, do fundo do mar, em busca de um respiro. Passos de aperto em busca de uma liberdade que, naquele instante, só a praia poderia lhe dar. Já podia ver o fim da rua, com o mar ao fundo. Ao chegar, parou por um segundo. Respirou e tirou as sandálias; ergueu a saia que lhe alcançava os pés. Caminhou um pouco pela areia em direção ao mar e se sentou. Chorava por dentro. Em sua cabeça, berros e mais berros revoltando-se com a impossibilidade de ser mais que uma só mulher, a incapacidade de viver mais que uma única vida. Queria ser criança, homem, musa, filha, mãe, amante, santa, esposa, lésbica, namorada, puta. O que deveria ser? O que poderia ser? O que poderia ter? O quanto teria que perder por conta disso? Qual dessas escolhas, com quais variáveis, em quais condições e combinações lhe trariam o melhor caminho? Ela o amava. Mas não lhe era o suficiente. Já acontecera antes dele. E agora, sentia novamente não poder viver apenas com amor; não aqui, não hoje. Não com ele. Viveria uma paixão? Apenas uma única grande paixão? Quantas grandes paixões ela poderia ter? Haveria outra? E mais uma, e outra, até que se sentisse satisfeita? Estaria satisfeita? Haverá satisfação? Sentia o amor e sentia a ânsia, a náusea; o desejo. Não, o amor dele não lhe bastava. Queria mais. Queria o que não poderia ter com ele; não apenas com ele. Sexo, outro homem, outros homens, outras vidas, outras histórias conectadas, cruzadas com a sua. Sentia um impulso de dar as costas e viver outra vida, como se pudesse congelar sua versão atual e se dedicar exclusivamente a outra persona. Retornaria depois, quando bem entendesse, para retomar seu ‘eu’ antigo e iniciar uma terceira tentativa, tendo como base duas coleções de experiências. Poderia voltar para ele. Até lá, seria a carismática, a sedutora, a fascinante; a sedenta Sofia que vagava pelo mundo em busca de vida.
Tudo lhe soava lindo nos planos da mente, mas havia ele. Aqui e hoje. E tudo que tinham feito, enfrentado, planejado? E tudo que iriam fazer juntos? Como dizer a alguém ‘eu te amo e não me basta’? E não havia garantia de nada. E se, uma vez rompidos, viesse o arrependimento? Poderia tê-lo de volta? Perdoar a si mesma ao perceber que estava errada em deixá-lo? Como viver com isso? Ao mesmo tempo, como poderia saber o valor de tudo que se perde de um lado sem enxergar as possibilidades do outro? Sofia pensava, pensava sem parar; estava inquieta, nervosa. Imaginava a cena, o encontro com ele; suas palavras, a reação dele. Foi quando percebeu a presença de alguém ali por perto. Ergueu os olhos para encontrá-lo.
Ali estava ele; de pé, descalço, sapatos na mão; esperando por ela. Ofereceu-lhe a mão, ela sorriu, meio sem vontade. Ele se sentou ao seu lado. Por um momento, buscaram se conectar mais uma vez, em silêncio. Os dois olhando aquele mar escuro, continuação da noite profunda e estrelada de maio; a praia, tomada pelo som das pequenas ondas que quebravam ali adiante, parecia lhes abafar os pensamentos. Ele não disse nada. Aproximou-se de lado, passou-lhe um braço pelos ombros. Sofia tinha as mãos trêmulas, peito acelerado. Sentia uma corrente de euforia disparar por seu corpo. Como quando tomamos consciência da chegada de um momento importante; como quando sabemos estar próximos de um fim. Sofia passou uma mecha da franja dourada para trás da orelha, respirou fundo. Puxou um punhado de coragem do mais distante pedaço do coração, concentrando toda sua força para trazer o ar em forma de voz. Tinha uma força desgovernada a lhe empurrar por dentro, adiante. E não lhe sobrou energia para uma lágrima sequer. Apenas o suficiente para abrir a boca, aquele belo par de lábios rosados que ele tantas vezes tomara pra si, nos mais diversos beijos: o quente, o de todas as horas, o cúmplice, o fugaz, o doce. Aquela mesma boca agora lhe falava, quase num respiro de alívio:

- Ignacio, preciso te dizer uma coisa.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Um poema por dia - 29/07 - A temporada da calmaria

29/07

A temporada da calmaria

Do dia em que cheguei
À hora de partir
Cantei, cantei, cantei
Que nunca te esqueci

Poeta incendiário,
Trovo solitário
Ruivo, barba, violão;
Conservo relicário
Atento temporário
Espanto a escuridão

Espero por você
Canção, a mais antiga
Lamento te perder
Te encontro em outra vida.

Um poema por dia - 29/07 - Canto da madrugada III

29/07

Canto da madrugada III

Pode ouvir o som do trovão?
O passado lhe chamando atenção
A cena está montada
Noite alta, madrugada
Luzes apagadas
A estrada chama
A estrada não dorme

Pode ouvir o som do trovão?
A mão
Do presente em movimento
O momento
Incitante, excitante
Levanta um vestido
Aponta um caminho
Esboça um carinho
Te leva sozinho
Ao deserto da estrada aberta
Desperto na estada incerta
Sempre desperta
À sua espera entre dia e escuridão

Pode ouvir o som do trovão?

domingo, 28 de julho de 2013

Um poema por dia - 27/07 - Poema da morte antecipada

27/07

Poema da morte antecipada

Singela
Sincera
Pergunta
Assusta;
Seria
Sabia
Da sua
Angústia?
Pudera
Pondera
Pandora
Agora
Embora
Estivesse
Em cima
Da hora;
Por fora
Não fora
A forca
Senhora
Quisera
Tentara
Tivera
Acabara
Partira
Deixara
Partido
Deixado;
Deixado
Deitado
Deixando
Ficar
Sozinho
Sofrendo
Não pôde
Esperar.


Um poema por dia - 26/07 - Canto do ego

26/07

Canto do ego

Leva-me para um lugar que seja meu
Leva-me
Joga-me
Lança-me
Num lugar que seja meu
Carrega, me entrega
Me rasga, me nega
Um lugar que seja eu
Me encontra, me mostra
Me toca, me choca
Com alguém que seja eu
Me entrego, me levo
Me lanço, me jogo
Me rasgo, me busco
Me estrago, me nego
Me mostro, me toco
Me carrego, me entrego
Me sofro, me choro
Me espero, me tento
Me peço, me aumento
Me lamento.
Me procuro.
Eu.

sábado, 27 de julho de 2013

Um poema por dia - 25/07 - Sua ambição explodiu, escorreu e arranhou o céu

25/07

sua ambição explodiu, escorreu e arranhou o céu

um rasgo do tamanho da ambição
fenda afunda no fundo do peito
arranhão
arranha-céu, guarda-sol, louva-a-deus
o rastro é vermelho-sangue-chocolate
caminho abandonado
mendigo embriagado
homem desabrigado
engraçado?
o herdeiro tem berço de prata
o bueiro tem cheiro de mata
trata
seus olhos com a cerimônia que merecem
se esquecem
dos tantos anos de batalha
canalhas

um buraco do tamanho da ambição
o escuro vazio no seu coração
vago, largo, cego, magro
enfio a mão suja no seu peito aberto
me perco
enquanto me esqueço
e te mantenho por perto
cemitério vivo
perigo
uma fenda fatal na escuridão
traição
o gosto amargo da submissão
o rasgo, o estrago da sua ambição.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Um poema por dia - 24/07 - Solidão é selva

24/07

Solidão é selva

Sirenes fecham o fim da hora
Seduzem o dia
Perseguem história
Cruzam o mundo de pernas pro ar
A aplaudir e aclamar
A máquina de salvar

. . .

Viva nascente do mal
Saberá por onde ir
A caminho da vida normal
Condenado pra sempre a seguir

Um sorriso pra uma chegada
A entrada de uma estação
O rastro, o sinal, a pegada
Desbravado pela solidão.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Um poema por dia - 23/07 - De grão em grão, a galinha enche o saco

23/07

De grão em grão, a galinha enche o saco

Quem dirá o que se pode
O que se deve
Quem se atreve?
Entregue
Aos caminhos do chão
De mão em mão
O que será de ti
Aqui
Não haverá porém
Não haverá senão
Não.
Aqui te restarás assim
Enfim
Calado rua abaixo
Queimando pé na terra
Vivendo o dia em guerra
Um pedaço de merda
Por vez.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Um poema por dia - 22/07 - Alien

22/07

Alien

Acorde no desconhecido
Desperte seu sentido
Tampouco vai-se com o perigo
Que o sangue corre preguiçoso
Nervoso, ansioso, medroso
Prisão do homem de bem
O homem que vem.
Sem.
Vem soterrar o umbigo
Esfaquear o amigo
Carregando consigo
Uma chance de luta
De adiar a permuta
Que lhe intimida
E que o deixa nu
Nu bebê, nu criança
Deitado no frio, alma mansa
O homem cordial pisa, pesa
Pega a balança
E se lança 
Na vingança
Da corrente de emoções
Entre estações
E foliões do verão
De chapéu na mão
Entregue senão
À luz que lhe chega pra trazer
A luz que veio pra morrer.

Um poema por dia - 21/07 - Classificados de rua

21/07

Classificados de rua

Compro minha memória de volta
Vendo meu sorriso
Alugo minha alma
Troco meu juízo

Compra-se a cura da felicidade
Procura-se quem venha da eternidade
Um berço de ouro? Um corpo de luxo?
Vende-se um homem, sujeito-produto
Pronto pro uso

Quer comprar? Quer vender?
Um de cada pra você
Vende-se bem, vende-se tudo
Grito, anuncio, pago à vista, faço cheque
Assino cartão, contrato, barato, compro planos
E que me custa ser escravo por 100 anos?

Dou-lhe uma.
Dou-lhe duas.
Dou-lhe todas.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Um poema por dia - 20/07 - O mundo do alto

20/07

O mundo do alto

O mundo do alto
Te toma de assalto
Te lança no ar
E não te deixa voar
Te joga no chão
Corrói verdades
A antecedência dos conceitos
Destrói a exatidão
Assombra o coração;

No mundo do alto
Há um mundo muito
E mesmo do alto
Se é muito pouco
A altura central,
A distância final
Para o mundo real
Um mundo do alto
Um voo, um salto
Justo, leve, solto
O mundo do alto
Me faz seu arauto.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Um poema por dia - 19/07 - Perdi minhas lágrimas num mergulho no mar

19/07

Perdi minhas lágrimas num mergulho no mar

Procura-se um lugar
Para se encontrar

Não choro.

No som de vagar
Há muito de paz
Do que faz
O corpo da paciência
Doença do ansioso
Virtude da sapiência

Esperar.

A hora de se banhar
Bradar
Brindar
Pedindo os sabores
Favores do tempo;

Beijo-lhe a mão
Peço-lhe benção
E paro de existir
Algum dia, alguma hora
Deixo de existir
E de estar, algum dia
Estar
Ainda estar.

domingo, 21 de julho de 2013

Um poema por dia - 18/07 - Canto da partida

18/07

Canto da partida

Esse retrato em preto e branco
Essa figura escurecida
Mostra quem já não é mais
Quem era, quem já se foi

Malas cheias, casa vazia
Coração rasgado, o sangue pulsa
Pelo tempo em que a vida
Tem cara de vida
Pessoal, íntima, grandiosa
Cá está ela, acontecendo
Mudando
Correndo furiosa
Exigindo o controle de suas rédeas
Ou uma jornada desgovernada
Traz uma estranha sensação
Os acontecimentos são uma repetição
Do que já houve, em escalas maiores

É chegado o momento de crescer
O momento de romper
A hora de morrer
A vez de renascer.

Vou. Fui.

sábado, 20 de julho de 2013

Um poema por dia - 17/07 - III

17/07

III

Somos três, sempre os três
Nós, eu e vocês
Três homens abraçados
Sem saber onde um começa e termina
Três mãos unidas
Feridas, grandes mãos
Amigas

Te abraço, sinto teu coração
Posso te falar, não te ver
Quero te ouvir
A força da emoção
Em ti
Controlado pra não sorrir
Com cuidado pra não chorar
Não neste lugar

Sigamos adiante, então
Porque importa o que será de nós
Após
A partida
Restaremos a sós
Saudade
E distância
Num tempo de esperança
À espera do próximo encontro
Estando ou não pronto
Sigo daqui
Com vocês daí

Juntos na vinda
Sempre
Juntos na dor
Juntos ainda
Em frente
Irmãos onde for.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Um poema por dia - 16/07

De pé, diante do dia, acordamos.
De olhos brilhantes, peito aberto para o mundo,
Ainda que pequeninos pra tudo.
Nos juntamos, lutamos,
Jogamos, aprendemos
Choramos, amamos, nos apaixonamos
Caímos, pedimos, sofremos;
Queremos, queremos saber!
Sabemos!
Conquistamos
Ganhamos, perdemos;
Corremos, corremos, corremos!
Comemos
Nos divertimos, sorrimos
Sonhamos
Cansamos.
E cansados, deitamos.
Pra dormir. 
Terminar. 
Acabar.
Acabamos.

16/07 - Num dia, nós, crianças, sentimos uma vida inteira

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Um poema por dia - 15/07 - "escrever é sacudir o sentido do mundo"

15/07

"escrever é sacudir o sentido do mundo"
                                              roland barthes

E se eu sumisse,
você lamentaria?
e se partisse,
choraria?
e se perdesse,
se arrependeria?
se me esquecesse,
você me culparia?

E se não fosse,
se não estivesse,
se não parecesse,
se não escondesse,
você ficaria?

Se eu me arrumasse,
me conquistaria?
me cortejaria?
me beijaria?
me amaria?

E se eu morresse, 
você choraria?
entre erros e dores,
você choraria?
por escolhas e amores,
você perdoaria?

Se eu falasse
você não me ouviria;
se eu gritasse
não me ouviria;
se eu te chamasse
você não me veria;

Escrevo.
pois se escrevesse
acho que você gostaria;
acho que você me leria.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Um poema por dia - 14/07 - Canto do que será

14/07

Canto do que será

Será à toa?
A rima da criança
Com esperança
E a presença da lembrança
Nessa dança?

O muro, duro
A rima do futuro
Futuro do presente
Pressente

De braços erguidos no ar
Haverá
Chegará
Virá
Será

Será?
O passado
Amado
Como se diz?
Feliz
De quem passou
Quem viveu
Morreu
Quem viu?
Cem mil.

Será? À toa, será?
À toa
Doa, doa a quem doer
Por quem quiser sofrer
Por quem sofrer quiser
Por homem ou por mulher
Esteja onde estiver
Esteja
Será?
Se for, que assim seja.

O mistério é etéreo
Ou não seria misterioso
Orgulhoso de si que só
Fecha o nó da imaginação
O final de uma linda canção
De um agir pela destruição
Na ordem do caos que se aproxima
O lugar está vago e determina
O caminho do meu próprio mundo
O mergulho em mim, profundo
Será.
Pra quem quiser ver.
Será.
Porque assim tem que ser.

domingo, 14 de julho de 2013

Um poema por dia - 13/07 - Arremata! Arrebata!

13/07

Arremata! Arrebata!

Encoraja-te!
Para os excessos
Lágrimas do céu
Dúvidas da terra
Restos de sal
Rastros de sol
Queima-te ao ar livre!
E livra-te do ar
E do mar
E do lar
E do par
Rende-te!
Em prantos, talvez
Tomado em chance
Verdade incapaz
Verdade jamais
Arremata! Arrebata!
Ei, tu! 
Encoraja-te!
Queima-te! Livra-te!
Rende-te!
Arremata! Arrebata!

Um poema por dia - 12/07 - Um sorriso no céu

12/07

O sorriso no céu

O sorriso no céu
Lua de papel
Que mingua? Que cresce?
Lua de mel não arrefece
Um sorriso sem olhos
Ou de olhos fechados
Dormidos, caídos, cansados
Sonhados, partidos; imaginados

O sorriso vê
Gato negro da noite
Inglês, do segredo
O gato que ri
O gato que poderia ser queijo.

A lua que vê
O sorriso que é
A lua de mel
No papel
O sorriso no céu.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Um poema por dia - 11/07 - Antes do fim

11/07

Antes do fim

Tic tac
Toc toc
Bate à porta a finitude
Traz um canto de aviso:
Quem ainda não morreu
Estará morto;

Se faz de pé, se faz lembrar:
O que não acabou
Um dia vai acabar;

Fim,
A mão pesada que esmaga o sonho
A sombra que se volta sobre o medo

Sim,
Também a luz que ilumina o próprio tempo
Faz poesia da passagem, do momento

Tudo chega ao fim
Tudo chega a um fim
As coisas lindas ficarão
Porém são findas
Todas as coisas, mais lindas
Lindas que mais, partirão;

Eis o tamanho da escuridão
Que nos deixa com a luz
Da vida de nós
Do agora, hoje, do amanhã
Do depois, do sempre

Quanto seja antes, assim,
Todo o sempre, antes do fim.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Um poema por dia - 10/07 - O circo pega fogo

10/07

O circo pega fogo

O circo não para
O show não cessa
Dispara, cansa, estressa

O circo pega fogo
Incendeia, tomba, cai
Confrontado, em si, decai

O circo se recusa
Nega o erro, a queda
Nega o tempo e ao fazê-lo, se entrega

O circo não é mais
O circo jaz
Entre restos e destroços,
Em pedaços, em negócios
O circo se desfaz.

Um poema por dia - 09/07 - Canto da rua de sempre

09/07

Canto da rua de sempre

Das ruas em que foste criança
À cidade em que serás distância
Tudo passa e tudo fica

A sombra do sol no berço vazio
Fel provado em dia frio
Nos caça, nos liga

Toca, à resposta da questão
Provoca, sufoca a derrota
À parte do silêncio que investiga
Pare, pense, siga
Siga, sinta a tinta
O artista
Que o quadro de teus anos pinta.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Um poema por dia - 08/07 - Linha a linha

08/07

Linha a linha

O caderno de memórias não se fecha
Letras, palavras, poemas, histórias
É o que sobrou, é o que te resta
Batalhas vencidas, batalhas inglórias

Entre escritos, rabiscos e traçados
Uma mera sombra da verdade
Lidos, filhos, atirados
Uma onda, identidade

Cai o chão, a pele grita
Papel limão, célebre, fita;
No campo surge, vazando veneno
Levanta e rugem, prepara o terreno.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Um poema por dia - 07/07 - um sonho real para sempre

07/07

um sonho real para sempre

sonhei.
com amor.
amizades.
entre anos perdidas,
reunidas;
encontro
partida.
união. emoção
celebração.

sonhei com música.
abraços, lágrimas
sorrisos, beijos, páginas
páginas e páginas
do tempo.
numa noite
num sonho
real. a dois.
e a tantos.
a tantos, há tantos
no sonho.

o sonho da noite
na noite da festa
nesta chance, neste sonho
brindo à vida,
sonho lindo
sonho findo
incerto
aberto;
sonho estará aqui por perto
sempre.

Um poema por dia - 06/07 - Alto. Acima. Além.

06/07

Alto. Acima. Além.

Esperar.
Querer.
Correr.
Viver.

Acima do ar.
Acima do sol.
Na esperança
Expectativa

Sem porém. Sem refém.
Além.
Ser além das lembranças
Além das mudanças.
Ser e viver.
Além da tentativa
Além da esperança
Além da expectativa.


domingo, 7 de julho de 2013

Um poema por dia - 05/07 - Canto da coragem

05/07

Canto da coragem

Gato numa briga de leões
Gato numa jaula de leões
Corações
Ao alto
Passo a passo
Se desfaz o medo em ar
Brigões
É traiçoeiro seu olhar
Emoções
Domadas
Tomadas
Retomadas
Canções
Cantadas
No despertar
Da união dos seus sentidos
Virá, virar
Torcer os arranhões
Casar os vilões
Cuspir decepções
Calar as ilusões

Gato preto grande e forte
Em chão frio, branco
Vigia, vigia
Mostra as presas
Avalia;
Leões certezas
Silencia.