Encruzilhada

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terça-feira, 16 de setembro de 2014

Colaboração com o DCM - Os EUA e o 11 de setembro

Texto originalmente publicado no Diário do Centro do Mundo.

O que os Estados Unidos aprenderam com o 11 de Setembro?


Postado em 15 set 2014

A história sendo feita
A história sendo feita
Eu lembro onde estava no dia 11 de setembro de 2001. Diz-se que em determinados acontecimentos de relevância mundial, todo mundo lembra onde estava. Era a semana de provas no primeiro ano do Ensino Médio e eu tinha acabado de sair de um teste de Geografia quando cheguei em casa por volta das 9h30 da manhã, liguei a televisão e vi o que estava acontecendo nos Estados Unidos. Mais tarde naquele dia, meu irmão mais velho me levaria para garimpar edições extraordinárias de jornais e revistas em bancas e livrarias. Era a História acontecendo.
Treze anos depois, moro em Nova York. Cheguei aqui há pouco mais de um ano, e antes disso tudo, o que conhecia da cidade vinha do cinema americano e do seriado Friends. Estar finalmente aqui depois de consumir tanta coisa relacionada a Nova York criou uma sensação estranha em mim. Eu não conhecia a cidade, mas era como se conhecesse. Hoje posso dizer que sei meus caminhos por aqui.
Estudei durante seis meses no bairro do World Trade Center, o Financial District, no sul da ilha de Manhattan. Por conta de um trabalho, voltei a frequentar a região nessas últimas semanas. Há algumas noites, dois fachos de luz paralelos se erguiam do chão ao céu escuro e nebuloso. Era o ensaio para o que fazem todo 11 de setembro desde 2001. ‘Nunca esqueça’, é o lema dos americanos para o acontecido.
Estando aqui há mais de um ano, conhecendo a dinâmica do funcionamento da cidade, a cara do modo de vida nova iorquino e tendo visto a cultura americana por dentro, posso começar a tentar compreender o que significou aquele dia para quem vivia aqui. Uma série de comparações do site Buzzfeed mostra fotos dos mesmos locais em 2001 – como os vi pela TV – e hoje – como os vejo no meu dia a dia.
Um professor, morador da região à época, contou-me uma bela história de como teve que andar algo como 60 quadras ou mais com a mãe idosa, uma vez que os três pararam de funcionar. Impedido de voltar pra casa por três meses, ele descreveu como foi quando retornou, depois de passar por mais de um posto de controle militar. E o momento em que colocou a Nona Sinfonia de Beethoven para tocar alto na janela do seu apartamento coberto de poeira, detritos e sujeira.
Outro professor me contou como vários amigos revoltavam-se com os turistas americanos ufanistas e fanáticos bélicos que vinham salivando em busca de detalhes, querendo ver o Marco Zero e tudo mais. Hoje há um museu/memorial para o 11 de setembro. Eu não o conheço. E confesso que não sei direito o que pensar sobre a loja do local, que vende de camisetas, agasalhos, bonés, gravatas, livros e documentários com a temática.
Em um excelente artigo publicado no The Guardian, Ali Soufan, ex-agente do FBI e especialista em contraterrorismo, analisa como as decisões do governo americano acabaram levando o país a lutar a mesma guerra todos os anos, há treze anos, e fortaleceram a ideologia de Osama Bin Laden ‘além de seus maiores sonhos’, desaguando no Estado Islâmico (ISIS), o atual maior problema para a política internacional de Barack Obama. Segundo Soufan, os EUA optaram por caçar Bin Laden em vez de destruir seus ideais, concentrando-se mais na perspectiva americana sobre os terroristas, do que no pensamento dos terroristas sobre os americanos.
Ele ainda completa tentando abrir um caminho sobre o futuro da região:
“O enfrentamento militar é inevitável porque palavras não vão derrotar o Estado Islâmico e o seu armamento pesado, mas não pode haver uma solução puramente militar, e esta não pode ser levada a cabo pelo Ocidente. Quando Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Líbano, Turquia e, sim, até o Irã, finalmente agirem como se o futuro da região deles estivesse em risco, só então a maré irá virar”.
Sempre que passo por perto da área do WTC, olho pra cima e vejo o arranha-céu erguido e ainda não finalizado. Com sua antena alcançando 546,2 metros de altura, o prédio é o mais alto do Ocidente, ainda maior que as torres originais (417m cada, com a torre norte chegando a 526,3m também por conta da antena). E sempre me pego lamentando que os Estados Unidos não tenham aproveitado o momento para repensar seu papel no mundo e refletir sobre o custo de suas ações na política internacional, em especial no Oriente Médio. Em vez disso, revidaram violência e terror com mais violência e terror. E ergueram um prédio mais alto, apelidado de ‘Torre da Liberdade’.
Lucas Gutierrez
Sobre o Autor
Lucas é ator, poeta, escritor e jornalista.