Encruzilhada

Encruzilhada

sexta-feira, 5 de julho de 2013

10 poemas favoritos - abril/maio/junho

1 - 02/04

Lide


O quê

Onde
Por quê?

Quem

Você
Quando
Você
Vem?

Como

Saber
Do seu
Querer?

O quê

Você
Quando
Eu
Quem
Fomos
Como
Vós
Por quê?
Sós
Somos
Nós.


2 - 30/04

A travessia


Há um rio; corre livre

Separando dois caminhos
Se se encontram, não se sabe
Caminhante, eu sozinho

Passa grande e forte, o rio

Enquanto olho, penso e crio
Me convida ao seu domínio
Faz da água meu destino

Minha força, minha luta

Minha alma desafio
Minha escolha, resoluta
Minha vida nesse rio

'Serei eu', como escrevi um dia

À luz que a nova liberdade irradia
'Convicto, invicto'
Pacífico e nem por isso omisso

Chega a hora da travessia

Deixar pra trás quem já chegou
Uma coragem, inda que tardia
Dentre muitos, dentre tantos, me encontrou

E se antes era partido

E me contava rachado, escondido
Digo 'vem, amor' e 'vá, dinheiro'
Se era incompleto, agora sou inteiro.

3 - 09/05

vitrine da vovó


"Toda minha vida está aí'

Ela me diz
Como quem quis
Me convidar a entrar

Cá está

Tudo em seu lugar
Entre lembranças
Heranças
Do amor
Do avô

À melodia de uma caixinha de música

Há memória
História
E ela deixa de ouvir para estar
Entre palhaços, canetas tinteiras
Milhares de peças resistem inteiras
Unidas, coladas, se soltam, separam
Pedaços da vida
Escurecida, se apagam

Entre livros e jóias

Louças e oração
Entre o silêncio se colocam
As notas de uma canção

Do que nos deixa, do que se foi

Do que se vai, do que ficou
Uma melodia repetida e ouvida
Através do tempo, dos anos, da vida

Quero chorar, não consigo.

É algo maior que se junta comigo
Sobre o que é, o que fica
Sobre o que há, não se explica
Nesta tarde de maio, me domina, me ensina
E assim, de repente, se fecha e termina.

4 - 17/05

Mal-estar


O mal-estar

Estar
Está
Por vir a ser
Por não ser, eis a questão
Que coloca no olho do furacão
O diapasão
Da solidão que é o mal
Estar em que se encontra
É o que se compra na televisão
Quem vai pagar, quem vai vender
Você vencer viver vir ver
E ler
O que se escreve na biografia
Geografia de quem foi, do boi
Epitáfio de dia:
"Aqui esteve o mal
Em si, se vá
Estava em mim
O mal-estar, está".

5 - 21/05

Essa gente

Dessa gente que me passa
No caminho
Dessa gente que me olha assim
Sozinho
Gente estranha, esquisita
Corre, corre, aqui, aflita
Apressada, vai e vem, vem e volta
Da vida
Atrasada pro que tem, tem e solta
Com olhos de serpente
Boca de vidente
E olhares tão vazios
Fugidios
Enquanto me oriento e determino
Considero meu destino
Sorridente, não me compreendo
Esqueço, e até agradeço
Entendo com seu preço
Por entre ruas sujas
Suas na minha medida
Escuras de pintura anoitecida
Sentida dessa gente tão perdida.


6 - 31/05

tristeza será

tristeza será linda
tão bem-vinda quanto finda
será bela
numa manhã amarela
de lágrima derramada
ou rosto seco de madrugada

tristeza será fria
ponta de melancolia
um vazio, uma falta, um lamento
por um fio me assalta o sofrimento
faz-se ouvir, sentir
calado, quieto, por perto
bem de perto

vem do centro o encantamento da grandeza
lá de dentro o movimento da tristeza.

7 - 02/06

Canto do renascimento, 27 anos depois

Aos amigos,
bem-vindos! Aos queridos,
partidos, por vindos,
minha palavra:
de que não posso falar de jornada
que não seja minha própria estrada;
não digo o que deve ser
tampouco o que será;
escrevo que pude ver
anseio pelo que virá;
compartilho e lhe peço um abraço.
O abraço me é muito caro,
quando inteiro, completo, é raro;
teu carinho comigo, sozinho,
tão sozinho
que não sabes nem nunca saberás;
agradeço como posso, como consigo
e tento, me ponho a sonhar mais
sonho demais
por saber, saber de menos
pouco, nada, a voz calada
e pensamentos soltos
revoltos
errados de erro inocente
de não ser meu o que tenho
em mente, em sangue, onde mais?
Sou preso. em preconceito e desprezo
escondido de todos
atrás de um sorriso
atrás de um juízo.
Sou entre sol e noite,
entre forca e açoite;
insone deitado, sonhando acordado,
acomodado e atormentado
tenho estado
estacionado e impregnado.
E por que não podemos ser melhores?
E por que temos que ser melhores?
Porque não basta, nunca basta
o que nos resta, o que nos cerca...
quero que passe,
quero o impasse.
Quero liberdade
daqui, de tudo;
liberdade tardia, que me chegue um dia
pois espero de esperança
desejo como criança
viver poesia
um pouco de cada dia;
viver a poesia de viver
lutar, lutar, sempre lutar
não para ganhar ou para vencer,
lutar para não perder
para não perder
o tempo, sempre ele, o tempo
dilacera o coração
possuído de emoção
grito e peço
e me despeço
do eu que era,
de mim da terra;
vou voar, vou ver o mar
vou voar
debaixo da luz, de olho no sol
sabendo que contra o céu
mesmo em dia não se vê,
ao que a noite escura
muito faz aparecer;
desimportar, encorajar,
um bom lugar pra começar,
pra renascer.


8 - 06/06

"Há urgência em estar vivo!"

é preciso.
mais ainda, digo.
é urgente.
fazer-se gente
fazer-se homem
desfazer-se homem
é preciso perder
é preciso partir
é urgente sofrer
é urgente cair
doer
sentir
ver, ver, ver
e ouvir
saber
o quê, pra quê,
mais do que porque
é preciso
precisar
uma precisa urgência
é preciso
estender
tensionar
confrontar
revelar
reagir
construir
é urgente
é preciso
"há urgência em estar vivo!"

9 - 21/06

poeta ao sul

Enquanto a noite é noite
Ainda que não negra, azul
O poeta caminha ao sul
Com pensamentos voltados para seu povo
De anseios difusos, confusos, obtusos;

Ao que o brilho do céu alcança o mar,
Que não é mar, é rio
O poeta vê o desvio
No caminho concreto
Ainda que de traço incerto
Que o povo trouxe pelos anos;
E mesmo longe, o poeta sente um fio de esperança
Pelo dia em que recolher-se-á a lança
Num grito de mudança
Que não perca a temperança
Da democracia tardia
Deste gigante natureza
De inestimável nobreza
E beleza;

Enquanto a névoa estende seu véu no horizonte
O poeta imagina uma ponte
Entre passado, presente e futuro
Pensando que é duro, mas puro
O caminho até o outro lado do muro.

10 - 30/06

futebol é a metáfora da vida

Domingo eu fui ao Maracanã 
Um dia meu pai me levou
Agora levo meu pai
Estávamos lá
Ele e nós três
Vendo pela primeira vez
O melhor time do mundo
E o maior time do mundo
Num Maracanã
Que é o Maracanã

Classe média, a seus lugares!
Diversão classista, sim!
E apesar de seus pesares
Inda assim
M A G I A

A (con)federação mafiosa
O estádio, superfaturado
Protestemos!
Não sou ingênuo
Eu próprio
De não crer ser o futebol, hoje
Um negócio

Mas há algo mais
Algo a mais nos imortais
Algo mais nos atuais

Há algo mais quando um jogo
É só um jogo e é tanto
Jogado desde os infantis
Mexe tanto com um país
Diz tanto sobre um país

Há algo mais no Brasil
Na seleção que é o Brasil

Que faz o sério sorrir
O cascudo chorar
O fã se maravilhar
E faz-me acreditar

Que o Brasil em campo não é alienação
É afirmação
Da estima
Da complexidade
Negação da doutrina
Do nosso próprio complexo

Podemos mais
Somos mais
Somos

Por isso podemos
Torcer
Podemos fazer
Escolher
Lutar
Compreender

O Brasil que podemos ter
O Brasil que poderemos ver
Podemos e seremos
Porque somos e queremos

Porque o futebol - não a Copa - é o Brasil fechado
Pobre e rico abraçados
Iguais
Filhos dos mesmos pais
Torcendo juntos por onze homens de um país
Unido

Todos parte desse time
Do moleque atrevido
Talentoso e criativo
Ney, que será rei;
Onde David é um gigante
Ao lado de um Golias Silva
À frente do goleiro
Imperador verdadeiro;
Daniel, Marcelo, Givanildo e Oscar
Time de raça, habilidade, união;
Luiz que ladra, morde e corre,
Time de garra, força, Felipão;
E os outros tantos, todos, 23,
E Frederico, matador de coração;
E Paulinho, o brasileiro
“O Paulinho é o Brasil”
Escreve o amigo mineiro

E agora, os sábios, que dirão?
Quem se importa
Sábios sempre saberão;
Enquanto isso, a seleção
Mostra que falando não se faz memória
É fazendo que se faz história

O Brasil pode
Nós podemos;
O Brasil é.
Nós seremos.