Encruzilhada

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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Filmes e Memorabilia 2013 - Trilogia Pusher

79, 80 e 81 – Trilogia Pusher – internet – 05/06

Nicolas Winding mergulha no submundo da criminalidade de Copenhagen em três bons estudos de personagens relacionados ao tráfico de drogas. E nos leva junto com ele. Em todos os capítulos (mas em especial no primeiro e no segundo), o diretor situa a ação em ambientes escuros, mesmo quando estamos de dia. O resultado gera filmes darks, com uma atmosfera muito apropriada à criminalidade de uma cidade grande e fria como Copenhagen. É um tipo de filmagem que eu acredito ter influenciado a forma de filmar de diretores como Paul Greengrass, que usa um estilo parecido com os dos filmes ‘Pusher’ quando filma a ação europeia nos filmes Bourne.

A levada realista de Refn nos envolve em todo esse contexto de criminalidade, criando uma proximidade perturbadora entre espectador e personagens. É interessante ainda como o diretor usa os clichês do gênero a seu favor, estabelecendo seus tipos sem glamourizar a atividade criminosa em momento algum.

Tudo é muito seco, muito cru, sem a violência gráfica ou fetichista que o diretor usaria (muito bem) como linguagem nos excelentes ‘Bronson’ e ‘Drive’.


No primeiro filme, o diretor adota uma câmera realista, quase documental (porém estável e praticamente invisível diante dos atores/personagens) e abre mão de recursos (usa trilha sonora ambiente, nada de câmera lenta), para focar a ação na semana do traficante Frankie. Assim, Refn nos promove uma jornada angustiante junto com o protagonista conforme ele vai esgotando suas opções de resolver seus problemas.

É fantástico ainda como nos importamos com Frankie mesmo ele sendo um escroto fracassado – méritos para o ator Kim Bodnia.

MEMO: (Revelações do enredo) A suspensão final é corajosa e surpreendente - a suspensão no final acaba por se tornar uma marca de toda a trilogia.


No segundo, Tonny (Mads Mikkelsen), coadjuvante do primeiro filme, torna-se o protagonista. Aqui, Refn apura seu estilo utilizando mais recursos, usando a trilha sonora e uma câmera lenta aqui e ali, a luz vermelha ambiente por algumas vezes, mas mantendo a estética realista e investindo mais no drama, ainda que o clima de tensão percorra toda a narrativa.

Mais uma vez Mads Mikkelsen (exaltado mais de uma vez neste blog) dá uma aula de atuação, compondo o imbecil Tonny com uma fragilidade que o aproxima de nós, testemunhas de sua jornada. E assim como no primeiro filme, lá estamos nós interessados no destino do bandido.

Aqui, no entanto, a trama em si acaba mais em segundo plano do que no primeiro filme, voltando realmente o foco para Tonny, que passa o filme num processo de ebulição, em especial no que diz respeito à sua relação com o pai.

MEMO: (Revelações do enredo) A última cena de pai e filho no filme.

No terceiro e talvez menos interessante dos três capítulos, Refn faz do improvável Milo o seu protagonista.  Mantendo a identidade realista do primeiro filme, o dinamarquês nos leva para acompanhar um dia na vida do chefão iugoslavo, enquanto ele tenta se livrar do vício e lidar com a pressão de um lado no trabalho e de outro pelo aniversário da filha.

Gosto do ator Zlatko Buric e apesar de alguns tempos mortos, sentimos a tensão no ar o tempo todo e o filme ganha com as guinadas do personagem. Uma pena então que por vezes elas demorem a acontecer.


MEMO: O ‘açougue’ improvisado.