A partir de uma música de Chico Buarque (‘Olhos nos Olhos’,
escute aqui a linda interpretação de João Nogueira para a canção), Karim Aïnouz escreveu
– ao lado de Beatriz Bracher - e dirigiu um quase estudo de personagem singelo
e belíssimo.
Apoiado na interpretação de Alessandra Negrini, ótima atriz, séria, aqui dona e razão do filme, entregando uma composição de personagem delicada, minuciosa
e silenciosa, Aïnouz cria o retrato de uma mulher abandonada e,
consequentemente, desnorteada em um mundo contemporâneo de muito ruído, seja de
comunicação ou de poluição sonora mesmo.
Fascinante e poético desde o primeiro – e bonito – plano, em
que o personagem de Otto Jr. deixa a praia e caminha, de sunga, pelas ruas do
bairro até chegar em casa, ‘O Abismo Prateado’ nos leva na jornada de Violeta (Negrini)
pelo abismo em que ela é jogada depois de receber uma mensagem em que o marido diz que a está deixando.
Sem chão, Violeta flana pelo dia e a noite, e nós,
conduzidos pela câmera lírica de Karim, somos levados a flanar com ela.
MEMO: A cena em que Violeta, Nassir (Thiago Martins) e a
filha dele observam, num Santos Dumont deserto na madrugada, a pista do
aeroporto, enquanto ele cantarola ‘Olhos nos Olhos’.