Encruzilhada

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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Diário do Festival do Rio: Futuro Junho e Argentina

Originalmente publicado no ORNITORRINCO 

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== Futuro Junho ==
Sempre ouvi falar do documentário ‘Justiça’, de Maria Augusta Ramos. Mas nunca o assisti. Pesquisando para escrever sobre seu novo trabalho, ‘Futuro Junho’, descobri que ela realizou não um, mas três docs sobre justiça no Brasil (além de ‘Justiça’, há ‘Juízo’ e ‘Morro dos Prazeres’). E agora que finalmente conheci o trabalho de Maria, assistir a essa trilogia será a primeira coisa que eu farei ao fim do festival.
Em ‘Futuro Junho’, a documentarista segue quatro trabalhadores (um motoboy, um economista, um operário e um sindicalista dos metroviários), acompanhando suas vidas em São Paulo nas semanas que antecedem a abertura da Copa do Mundo de 2014.
O mais fascinante sobre o trabalho de Maria Augusta é a dicotomia do papel adotado pela câmera. Por um lado, os personagens e as cenas de suas vidas são registradas de uma maneira tão íntima que é incrível o nível de naturalidade com que essas pessoas se portam diante da lente. Estamos falando de um tipo de cinema documental onde a única interferência visível da cineasta, além da edição, é pra onde apontar a câmera. Não há entrevistas, narrações, ou interação com a câmera. É uma espécie de cinema direto, mas com um trabalho de extrema sensibilidade na fotografia (créditos para Camila Freitas e Lucas Barbi). Em alguns momentos, parece que estamos assistindo a cenas improvisadas por atores imersos em seus papéis. 
E aí vem a dicotomia. Porque ao passo que ficamos impressionados com a aparente invisibilidade desta câmera diante dessas pessoas que parecem não se importar nem um pouco com ela ali, nos damos conta da importância de sua presença, tamanho é o poder dos registros colhidos em sequências como as confrontações de manifestações com a polícia ou as diferentes reuniões em família, que vão de uma bizarra conversa sobre comprar um espaço para sepultamentos no cemitério às discussões políticas e cotidianas à mesa de almoço ou jantar.
Falando através das imagens, Maria Augusta Ramos constrói uma análise de um momento ímpar na história do Brasil. Um documento poderoso.
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Próxima sessão:
Sábado, 10/10 10:00 CCBB - Cinema 1
== Argentina (ou Zonda, folclore argentino) ==
Da mesma forma que sempre ouvi falar dos documentários de Maria Augusta, também sempre ouvi falar do trabalho de Carlos Saura, cineasta espanhol, hoje com 83 anos e em plena atividade, cujo trabalho possui um laço intrínseco com a música. 
Em ‘Argentina’ ele passeia por ritmos, signos, danças e artistas do folclore argentino, criando um grande show-poema visual, encadeando uma sequência mais linda que a outra, entre duetos, violões, um encontro atemporal de Mercedes Sosa com alunos em sala de aula, uma homenagem a Atahualpa Yupanqui, entre outras sequências fabulosas.
Esta é uma das belezas de um festival de cinema. Muitas vezes sinto que o acesso facilitado a obras via download, DVD, etc, faz com que sempre deixemos pra depois aquele diretor ou filme de quem ouvimos falar tanto. E a oportunidade por tempo limitado de acompanhar um trabalho no cinema acaba se tornando a deixa para que façamos agora o que adiamos por tanto tempo.
Carlos Saura e Maria Augusta, prazer em finalmente conhecê-los.  
Próxima sessão:
Sábado, 10/10 14:30 Cinepolis Lagoon 2