Encruzilhada

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domingo, 11 de outubro de 2015

Diário do Festival do Rio: Olmo e a gaivota e Tudo vai ficar bem

Originalmente publicado no ORNITORRINCO

== Olmo e a gaivota ==
No meio do caminho entre ficção e realidade, ou além de todas as noções de ficção e realidade, está esse novo trabalho de Petra Costa (’Elena’).   
‘Olmo e a gaivota’ é simplesmente apaixonante. O projeto acompanha dois atores do Théâtre Du Soleil às voltas com uma gravidez e os ensaios para uma montagem de ‘A Gaivota’, de Tchekhov.
De início o espectador pensa se tratar de um documentário. No meio do caminho, passamos a questionar se o que estamos vendo é vida ou encenação. E eventualmente, nos desapegamos e deixamos de nos importar para apenar nos deleitarmos com um estudo poético da maternidade, do amor e do ofício de interpretar, protagonizado por personagens cativantes (como não querer abraçar Serge e Olivia, e fazer parte do seu grupo de amigos, cada um de um canto do mundo, dançando, bebendo e cantando ao violão?). 
Se ‘Elena’ era uma poderosa estreia em longas-metragens, ‘Olmo e a gaivota’ - aqui co-assinado por Lea Glob - vem para consolidar Petra como uma das cineastas mais interessantes de se acompanhar no Brasil.
Não há mais sessões de ‘Olmo e a gaivota’.    
== Tudo vai ficar bem ==
Desde a primeira cena, há um problema sério com o novo filme de Wim Wenders. Este problema se chama James Franco. Não sou dos que o repudiam (nos EUA há quem o considere uma grande piada), mas aqui, possivelmente no intuito de interpretar um personagem que tem dificuldades em sentir e se afetar com o que acontece ao seu redor, Franco faz uma única expressão facial (a testa franzida), fala em sussurros, e age como se estivesse sempre sonolento, cansado ou entendiado. Na tela, há apenas vazio. Talvez funcionasse melhor com alguém mais carismático que Franco. Aqui, não funciona. Porque um personagem completamente desinteressante é difícil de seguir.
Ainda assim, há qualidades em ‘Tudo vai ficar bem’. Apesar da trilha sonora por demais intrusa, o fotógrafo Benoît Debie filma lindamente, algumas cenas se sobressaem (como o reencontro entre o protagonista e a personagem de Rachel McAdams), sem falar que a montagem da sequência do telefonema entre Franco e Charlotte Gainsbourg - aqui desperdiçada - é especialmente inspirada. 
O curioso é que, em seus primeiros dois terços, ‘Tudo vai ficar bem’ parece totalmente equivocado, com saltos temporais abruptos, cenas que não chegam a lugar algum e um sotaque francês inexplicável para Rachel McAdams. 
No entanto, o filme, que segue um escritor cuja trabalho parece crescer e melhorar após um acidente de carro, ganha um pouco de força no seu terço final, quando finalmente encontra uma dinâmica interessante na relação entre o protagonista e um outro jovem. A partir deste momento, as escolhas de Wenders parecem fazer mais sentido, como se ele estivesse desenvolvendo uma narrativa literária no cinema, desviando-se das convenções dramáticas de um longa de duas horas.
Não é o bastante, mas poderia ser, fosse outro o ator no posto principal. 
Próximas sessões:
Sábado, 10/10 18:30Cinepolis Lagoon 5
Domingo, 11/10 14:00 Roxy 1
Domingo, 11/10 19:00 Roxy 1
Terça, 13/10 16:15 Kinoplex São Luiz 2
Terça, 13/10 21:15 Kinoplex São Luiz 2