Encruzilhada

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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Diário do Festival do Rio: Mate-me por favor e 600 Millas

Originalmente publicado no ORNITORRINCO

== Mate-me por favor ==
Você ainda vai ouvir falar muito de ‘Mate-me por favor’. 

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Transbordando maturidade, a cineasta Anita Rocha da Silveira estreia em longas-metragens com um filme ousado e corajoso, explorando de forma sombria e sinistra a adolescência nesta distopia chamada Barra da Tijuca. 
Com tons de David Lynch (de quem a diretora e roteirista é fã confessa) e algo de David Cronenberg, 'Mate-me…’ possui ecos de feminismo em seu mergulho nos descobrimentos, medos e, especialmente, pulsões da adolescência da protagonista Bia (uma forte presença de cena de Valentina Herszage) e é riquíssimo em símbolos visuais - há uma cena em que se discute o simbolismo na poesia de Augusto dos Anjos.
São várias as conquistas. Poderíamos falar da direção de arte de Dina Salem Levy e o uso inteligente da cor roxa, do elenco de química ímpar (o quarteto principal de meninas foi premiado em Veneza), do trabalho de som de Bernardo Uzêda, das músicas originais do Bonde do Rolê - e do uso do funk como um todo-, da fotografia de João Atala… Nas atuais circunstâncias, falta tempo.
Mas sem problemas. Ainda vamos falar muito sobre este filme.

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Últimas exibições nesta segunda:
Segunda, 05/10 14:00 Kinoplex São Luiz 1
Segunda, 05/10 19:00 Kinoplex São Luiz 1
== 600 Millas == 
Também em seu primeiro longa-metragem, o mexicano Gabriel Ripstein alcança um resultado singular com seu ‘600 Millas’. Produzido e estrelado por Tim Roth, o filme é protagonizado, no entanto, por Kristyan Ferrer, um jovem contrabandista de armas que acaba tendo sua vida cruzada com a do agente Hank Harris (Roth).
O inglês é sempre um ator interessante de se acompanhar, e aqui ele compôe um policial experiente desgastado com olhares, corpo pesado e voz, e ele sempre ilumina a tela. Mas aqui ele divide o brilho filme com Ferrer, representando com extrema vulnerabilidade um jovem tentando de tudo para ser alguém que ele não é.
Há uma tensão permanente em ‘600 Millas’, filmado em quadros cuidadosamente compostos e planos sequência primorosamente realizados, com um tempo naturalista e sem trilha sonora. Premiado como melhor primeiro filme no Festival de Berlim, agora Ripstein vai representar o México na corrida pelo Oscar de filme estrangeiro.