Encruzilhada

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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Diário do Festival do Rio: O Pesadelo, Stand By for Tape Back-up, O pica-pau russo

Originalmente publicado no ORNITORRINCO

== O Pesadelo: Paralisia do Sono ==
O diretor Rodney Ascher parece ter uma sensibilidade para a viralização. Depois do curioso ‘Room 237′ - onde investigava as diversas teorias em torno de ‘O Iluminado’ - aqui ele se mantém no terror, mas imerso em casos de Paralisia do Sono, outro tema com pinta de hit no youtube.
No entanto, neste segundo longa-metragem, Ascher dá um passo adiante no desenvolvimento de sua técnica documental. Enquanto ‘Room 237′ usava apenas o áudio das entrevistas para analisar o filme de Stanley Kubrick, ‘O Pesadelo’ ancora-se em oito depoimentos e faz uso de arrojadas encenações e dramatizações. O grande problema aqui é mesmo o tema.
Apesar da qualidade técnica, tudo me soou um pouco desinteressante. Não é assustador o suficiente, não é engraçado o suficiente e no fim parece levar-se a sério demais - o que por outro lado é até compreensível em respeito aos entrevistados que conduzem todo o documentário e que realmente sofrem com os episódios.




Próximas sessões:
Domingo, 11/10 13:45 Kinoplex São Luiz 2
Domingo, 11/10 18:45 Kinoplex São Luiz 2
Quarta, 14/10 16:00 Estação NET Ipanema 2
== Stand by for tape back up: Memória em VHS ==
É por filmes como esse que é fantástico acompanhar um festival de cinema. 
Sabe aquela lenda de que se você rodar ‘Dark Side of the Moon’ junto com ‘O Mágico de Oz’ vai notar como há padrões e semelhanças intrigantes entre as duas obras, como se estivessem sincronizadas? O escocês Ross Sutherland parte desse experimento para fazer o seu próprio, voltando, pausando, avançando e colocando em câmera lenta as imagens capturadas da TV para uma velha fita de VHS herdada de seu avô, ao mesmo tempo em que reflete sobre suas memórias afetivas.
O resultado é uma criação experimental corajosa - o autor chega a deixar a tela azul, preta, em estática, e recorre exaustivamente ao mesmo trecho de imagens, repetido de novo e de novo, criando novos significados para uma sequência do clipe Thriller, um comercial, a sequência de abertura de Fresh Prince of Bel-Air, e entregando um pungente monólogo rico em metáforas e lirismo, versando sobre a vida através das imagens midiáticas que formam nossas identidades. 
Sutherland, que também é poeta e performer, fez turnê europeia de uma versão do filme para o teatro, apresentada pela primeira vez no Festival de Teatro de Edimburgo.




Próximas sessões:
Segunda, 05/10 20:00 CCBB - Cinema 1
Quinta, 08/1014:45 C.C. Justiça Federal 2
== O pica-pau russo ==
Dirigido pelo estreante estadunidense Chad Gracia, que originalmente havia concebido a produção como um vídeo de 5 minutos a ser postado no Youtube para amigos e família, este documentário premiado em Sundance segue as investigações do artista ucraniano Fedor Alexandrovich para descobrir quem seriam os verdadeiros responsáveis pelo desastre de Chernobyl.
Alexandrovich é um grande personagem - alguns o chamam de louco, outros de gênio - e o filme não só o acompanha de perto em suas incursões pelas locações fantasmas da antiga usina nuclear e suas entrevistas com figuras da era soviética como consegue registrar de dentro as revoltas populares populares recentes na Ucrânia.
Com uma linda fotografia (o responsável, Artem Rhyzhykov, chegou a ser baleado pela polícia em uma das manifestações), “O pica-pau russo” só escorrega ao usar apenas o ponto de vista dos Estados Unidos em relação ao conflito, jogando toda a responsabilidade em cima das ações do governo de Vladimir Putin e deixando de lado o papel de Washington e União Europeia na turbulência local (que terminou com um golpe de estado derrubando um presidente corrupto e colocando no poder um grupo ultra-nacionalista).




Próximas sessões:
Terça, 06/10 18:00 Museu da República
Sábado, 10/10 21:15 Cine Arte UFF
Terça, 13/10 16:45 C.C. Justiça Federal 1
Quarta, 14/1015:30Instituto Moreira Salles