Encruzilhada

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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Diário do Festival do Rio: Maravilhoso Boccaccio, Tudo que aprendemos juntos e O clã

Originalmente publicado no ORNITORRINCO

== Maravilhoso Boccacio ==
Depois de ter assistido a ‘César deve morrer’ há alguns anos, eu veria qualquer coisa dirigida pelos irmãos Vittorio e Paolo Taviani, que eu conheci por demais tarde nesta vida.
‘Maravilhoso Boccaccio’, seu novo novo trabalho depois de ‘César…’, não chega a ser uma obra-prima, mas tampouco é ‘qualquer coisa’.
Adaptando cinco das cem histórias do ‘Decamerão’, os veteranos de 86 e 83 anos, respectivamente, fazem um filme bonito, luminoso e divertido.
O único porém é que, sendo os contos de Boccaccio tão bons, é uma pena que haja apenas cinco deles, enquanto tanto tempo de tela é dedicado à narrativa que liga as histórias - também adaptada da premissa do Decamerão - seguindo um grupo de dez jovens em fuga de uma Florença assolada pela Peste Negra, na Idade Média. Fosse mais enxuta toda essa parte, uma dose a mais de Boccacio não faria mal a ninguém.

== Tudo que aprendemos juntos ==
Apesar de uma estrutura esquemática, que em muito remete a tantas outras histórias do professor que alcança redenção ensinando um grupo de rejeitados, é o coração de ‘Tudo que aprendemos juntos’ que faz a diferença.
As sequências de música são excelentes. E é possível sentir a paixão por trás do projeto, especialmente nas performances dos estudantes e de Lázaro Ramos, um protagonista algo introspectivo e solitário, que em momento algum abraça qualquer tipo de heroísmo em sua jornada.
Preparados por Fátima Toledo (’Tropa de Elite’, ‘Cidade de Deus’) e dirigidos por Sérgio Machado (’Cidade Baixa’), um incentivador da improvisação no set, os jovens que interpretam os integrantes da orquestra de Heliópolis iluminam a tela em suas participações, com especial destaque para Kaique Jesus (o menino Reginaldo, de ‘Linha de Passe’) e o estreante Elzio Vieira.  
Curiosidade: aos antigos fãs de Cavaleiros do Zodíaco, fiquem de olho em uma rara participação do ator e dublador Hermes Baroli, interpretando aqui o amigo do personagem de Lázaro Ramos.  
== O clã ==
Recomendo que o leitor não procure saber muito sobre ‘O clã’ antes de ir ao cinema. Mais uma vez, fuja das sinopses e dos trailers. Quanto menos você souber, melhor. Nessa linha livre de spoiler, posso dizer que é uma história baseada em fatos reais, que se passa no fim da ditadura militar argentina, e envolve desaparecidos políticos.    
O novo filme de Pablo Trapero (’Abutres’, ‘Elefante Branco’, ‘Leonera’), premiado em Veneza por sua direção, é corajoso e ousado em sua abordagem. Trapero é seguro e arrojado na condução da trama, mergulhando o espectador no dia a dia de uma família com uma história incrível, ainda que deixe determinados furos no caminho (entre alguns pontos que deixam a desejar, há o retorno de um dos filhos, por demais mal contado).
Há ainda uma performance absolutamente arrebatadora de Guillermo Francella, ator de um carisma que, em determinados momentos, chega a ser assustador.    
Próximas sessões:
Quarta, 14/10 14:00 Roxy 1
Quarta, 14/10 19:00 Roxy 1