38.
A Viagem
Chega
a ser curioso que, como expectativa, ao acompanhar o lançamento de ‘Cloud
Atlas’ (título original) imaginei, por mais rasos que estes conceitos sejam: ou
vai ser muito bom ou vai ser muito ruim. E no fim das contas, nem um, nem outro.
Apesar
de ter seus altos e baixos, enxergo ‘A Viagem’ (péssimo título nacional) como
uma experiência altamente recomendável não só pela qualidade dos envolvidos (os
irmãos Wachowski e o alemão Tom Tykwer dirigem e contam com um elenco que inclui Tom Hanks,
Jim Broadbent, Ben Whishaw, Hugo Weaving, Keith David, Halle Berry e Hugh
Grant, entre outros atores que, debaixo de muita maquiagem, surgem em papéis de
diferentes etnias e gêneros); mas também pelo tamanho do desafio a que o filme –
baseado em um livro de David Mitchell - se propõe e que consegue realizar com
dignidade: interligar seis histórias de épocas e temáticas – aparentemente –
diferentes para discutir o legado da humanidade.
Assim,
temos dramas de época, thriller anos 70, comédia britânica dos dias de hoje e
ficções futurísticas distópicas e apocalípticas. Apesar de algumas tramas serem
mais interessantes que outras e por vezes certas narrativas se alongarem e se repetirem a mais
do que necessário (como no caso da história mais antiga e da que se passa na
Seul futurista), o que dá força ao projeto é justamente ver o quadro geral de
gêneros e personagens conectados, como estamos todos nós, humanos, através do
tempo e espaço. Além do que, Ben Whishaw é um ator que ainda vai crescer muito
no cinema e é sempre maravilhoso ver Jim Broadbent em cena.
Enquanto
linguagem, a melhor definição que encontrei veio na crítica de Érico Borgo, do
Omelete: “É como zapear
furiosamente durante quase três horas entre seis canais de televisão e
descobrir que o aparelho está contando-lhe uma única história misturando
noticiário, reality show, comercial de fraldas e episódios de Star
Trek.”
É
um pacotão de cinema americano, mas com proposta de conteúdo mais consistente
do que muita besteira que se vê por aí.
MEMO:
No meio de uma festa, o escritor com um pé na marginalidade, interpretado por
Tom Hanks, atira de uma varanda o crítico que massacrara seu trabalho
autobiográfico.