Encruzilhada

Encruzilhada

sexta-feira, 22 de março de 2013

Comentário show 'Caetano Veloso - Abraçaço'



À primeira vista, um show de MPB (e alguém aí me diz o que é MPB?) seria para ser assistido sentado. Hoje, Caetano Veloso não é MPB. Acompanhado pela banda Cê - Pedro Sá, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes - Caetano é rock. É mais que rock. É rock tropical, se é que isso existe. Uma mistura de guitarra com violão, por vezes melancólica, em sua maior parte cheia de vigor e energia. Tudo somado ao canto único de Caetano.

Assistir ao show, no Circo Voador, no meu caso, foi assistir Caetano ao vivo pela primeira vez. Sei que isso não é novidade pra ninguém, mas perdoem o deslumbre provocado por uma primeira vez: Que artista! Caetano tem 70 anos. Ontem à noite, sem o menor exagero, parecia ter 50. Ou menos. A impressão é de que Caetano é jovem, sempre foi e sempre será. Com um espírito de idade semelhante aos seus companheiros de banda e ao seu público no Circo. E que lugar melhor para essa comunhão do que o Circo Voador.

Abraçaço, o show, começa com ‘A bossa nova é foda’, entoado de pulso erguido. ‘É o novo grito de guerra’, disse ele. Nas quase duas horas de show, Caetano fala pouco. Comunica-se pela música. E pelo corpo. Seja em gestos contidos no centro do palco de cenografia minimalista (há apenas um quadro com cavalete em fundo negro), seja caminhando enquanto bate nas mãos da turma da primeira fila, dançando empolgado ao som da guitarra de Pedro Sá. Em ‘Abraçaço’, ao fim da música, a banda para de tocar e se ‘esconde’ atrás da figura dele, deixando apenas os braços à mostra, variando poses, emulando uma versão alternativa da capa do disco homônimo.

O espetáculo segue passando por praticamente todas as canções do último disco (apenas ‘Gayana’ ficou de fora) e outras do disco Cê – se bem me lembro, Zii e Zie também acabou fora do repertório. Mas todo o ingresso e calor do Circo Voador já teria valido a pena só por ouvir Caetano tocar ‘Triste Bahia’, raro como é que ele revisite faixas do cultuado CD ‘Transa’ (pelo qual confesso ser completamente apaixonado). Caetano ainda levanta o público com os hits ‘Você não entende nada’, ‘Eclipse Oculto’ e ‘A luz de Tieta’, antes de encerrar com ‘Outro’, também do disco Cê.

Ao fim da noite, resto-me como testemunha de um grande artista não necessariamente em reinvenção, mas em invenção; em plena atividade e com plena vitalidade. Um artista completo: Caetano toca, canta, interpreta e compõe. Um artista jovem sem necessariamente querer ‘pagar’ de jovem; jovem porque é, não porque assim quer parecer. Caetano dobra o tempo ao seu próprio modo. E é um prazer vê-lo e ouvi-lo.  De pé.