Encruzilhada

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quarta-feira, 20 de março de 2013

Filmes e Memorabilia 2013 - Anna Karenina


62. Anna Karenina – 20/03 - cinema


Por um lado, Anna Karenina é sublime. A escolha do diretor Joe Wright de conduzir a produção com um viés teatral, misturando teatro filmado e cinema proporciona momentos de beleza ímpar como a transição de um cenário que se abre e revela uma paisagem externa na neve ou a linda sequência em que Karenin (Jude Law) rasga um bilhete e os restos de papel jogados no ar se tornam flocos de neve.

De fato, apesar de não seguir regras próprias para o uso dos recursos teatrais, uma vez que Wright parece usá-los quando lhe dá na telha sem necessariamente manter uma coerência, o jogo de cena e técnica de Anna Karenina fascina com seus movimentos arrojados, fotografia estourada e surpreende porque a qualquer momento pode surgir uma sequência mais arrebatadora.

No entanto, o que talvez tivesse potencial para se tornar uma obra-prima acaba aquém do seu potencial. Dois pontos são decisivos para essa impressão.

O primeiro é o roteiro de Tom Stoppard que apesar de belo e possivelmente primoroso para o teatro, no cinema se torna acelerado, como se estivesse correndo para dar conta de um vasto material (semelhante, embora em uma proporção muito menor, com o que aconteceu com ‘Os Miseráveis’). Assim, num momento Anna (Keira Knightley) pensa sobre se entregar ao Conde Vronsky (Aaron Taylor-Johnson), deita-se ao lado do marido, diz ‘é tarde demais’, a luz muda e ela já está fazendo amor com Vronsky. A passagem do tempo é acelerada e muitas vezes me peguei surpreendido por ela. Numa hora Anna está bem, na outra está doente, aparentemente à beira da morte, depois volta a ficar bem e tudo se sucede muito rápido.
 
E sobre o roteiro, apesar de não ter lido o original de Leon Tolstói ou de sequer ter visto qualquer outra adaptação da obra, devo dizer que o arco de Konstantin e Kitty não me disse a que veio.

O segundo ponto é a presença da careteira Keira Knightley como protagonista. Knightley é exagerada e sua atuação chega a ser irritante. A performance da atriz, aliada à ‘correria’ do roteiro, fazem com que simplesmente o espectador não se importe com o destino dos personagens. O que é uma lástima, já que a protagonista é uma grande personagem; uma mulher que ousa enfrentar as convenções conservadoras de sua época (muitas ainda presentes, mesmo que disfarçadas, nos dias de hoje) para viver uma paixão, enfrentando morais, marido, sociedade e possibilidade de perder o filho.

Fica a beleza técnica e todo o esforço de Aaron Taylor-Johnson (um nome que ainda vai crescer muito), o carisma de Matthew Macfayden (Oblonsky, o irmão de Anna) e a performance apropriadamente contida de Jude Law, despindo-se de qualquer aura de galã para compor um tipo humano que foge do estereótipo do marido-poderoso-traído, e único personagem capaz de ultrapassar a barreira da beleza/frieza cênica e chegar ao espectador.

MEMO: As cenas de baile são fantásticas, todas memoráveis, em especial a sequência da dança de Anna e Vronsky.