Lágrimas de anjo
Anjo,
Esta noite me ponho a te escrever
Me atrevo
Confesso não sei mais o que dizer
Escrevo
Conto mais uma vez o sofrimento dela
Olhos inchados, voz embargada
O amor de seu primeiro filho gela
Sente-se vazia invisível, derrotada
Ouço seu lamento quieto, silencioso
Sofre sem carinho, sem sorriso, sem cuidado
Sente a mágoa viva em teu discurso oficioso
Ferida por palavras e olhares de teu lado
Pudera eu rever-te ontem e entender
Pudera eu lhe dar meu corpo para esquecer
Poder, não posso
Me esforço
Também carrego dores em minha alçada
Esta noite choro horrores na estrada
Rasgo a voz até me doer a garganta
Pra ver se me acalma, me esfria
Evocando força, imploro, me arranca
A lágrima que é dela, faz minha
Haverá culpado? E que importa?
Uma vez caçada, a fera morta?
Por isso lhe peço que perdoe enquanto tempo
Pense uma vez mais no assunto, a seu momento
Peço que não a faça sofrer
Que tente de novo
Penso que não é muito a dizer
Tente de novo
Que possa recomeçar de pouco em pouco
Trazendo um sorriso, um beijo, um abraço
Que a tire da amargura, tristeza, do sufoco
Respondendo seu apelo, retomando o frágil laço.