59. Hitchcock (05/3) – cinema
Cúmulo da crise de criatividade que assola a indústria do
cinema americano não é de hoje, ‘Hitchcock’ adapta um livro-reportagem de Stephen
Rebello sobre os bastidores da filmagem de ‘Psicose’. O que pode ser um bom
registro jornalístico no papel torna-se banal em forma de filme.
Correndo o risco de ser julgado pelo exagero, acredito que
qualquer história pode ser uma boa história para ser contada em uma obra de
arte. Mas no caso de 'Hitchcock' o que há é uma série de curiosidades acerca das
filmagens mescladas a um esboço de criação de personagens, que acabam mal
desenvolvidos, mais em função do roteiro em si do que dos (grandes) Helen
Mirren e Anthony Hopkins. Hopkins, em especial, tem sua performance, com
cuidadoso trabalho vocal embora por demais infantilizada, prejudicada pela ridícula maquiagem, que ‘o
transforma num membro da família Klump’, como bem disse o crítico Pablo
Villaça.
Não duvido que esta história pudesse ter rendido um bom
filme. Mas do modo como o diretor Sacha Gervasi conduz as coisas, o máximo que
consegue é criar um patético triângulo amoroso (que pode até ter existido, mas
aqui é simplesmente mal construído e mal retratado) e acumular momentos
risíveis como as conversas imaginárias do diretor com o psicopata Ed Gein (Michael Wincott ainda existe!!), que inspirou o livro e o roteiro de 'Psicose'; ou ainda quando Hitchcock sai da pré-estreia de ‘Intriga Internacional’ e ouve
de um repórter algo como: “Sr. Hitchcock, o senhor está no auge de sua
carreira, o que fazer agora?”. Alguém pode ser mais irritantemente explicativo
do que isso pra deixar claro o conflito de um personagem?
Meu conselho: faça um favor ao velho mestre e use seu tempo
para (re)ver Psicose, uma das obras-primas de Hitchcock.
MEMO: Tenho que admitir que Hitchcock do lado de fora do
cinema regendo a reação das pessoas à cena do chuveiro é um momento inspirado.